Analfabetismo em massa e custos de vida no século passado

O Brasil de 100 anos atrás era um país cheio de contrastes. Com cerca de 30 milhões de habitantes, tentava equilibrar o crescimento das cidades com uma economia ainda muito focada na agricultura. Na década de 1920, enquanto os primeiros carros chegavam a São Paulo e o Rio de Janeiro se afirmava como a capital federal, a vida da maioria das pessoas era bem diferente da que conhecemos hoje. Para ter uma ideia, com dois mil réis, a moeda da época, você conseguia comprar apenas uma galinha.
Nesse período, o Brasil estava passando por intensas transformações sociais, políticas e culturais. A desigualdade não era apenas econômica; também havia um grande abismo intelectual. Aproximadamente 80% da população era analfabeta, e muitas pessoas não conseguiam nem sequer escrever seu próprio nome. A falta de um sistema educacional acessível e centralizado tornava a educação um privilégio para poucos. Assim, o país se dividia entre uma elite letrada e uma massa de pessoas com dificuldade para acessar oportunidades, vivendo principalmente da exportação de café.
A estrutura social era bastante fraturada, e a educação era um dos principais reflexos dessa desigualdade. Muitas pessoas enfrentavam desafios diários apenas para entender o que estava escrito em um cartaz ou fazer contas simples. Era um tempo em que as colunas sociais das revistas destacavam as vidas luxuosas de uma minoria, enquanto outras publicações mostravam a realidade dura das crianças carentes, que muitas vezes não tinham brinquedos.
A vida urbana: Rio como capital e a ascensão de São Paulo
Naquela época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, um verdadeiro centro das decisões políticas, econômicas e sociais. A cidade era cheia de vida, com suas praias e teatros. Um exemplo de como a sociedade vibrava era a visita do Rei Alberto I da Bélgica, que quebrou protocolos e decidiu tomar um banho de mar em Copacabana, surpreendendo a todos.
São Paulo estava começando a se destacar como uma metrópole em crescimento. A economia, que ainda girava em torno do café, começava a ser impulsionada pela industrialização. A década de 1920 viu as primeiras fábricas de automóveis montando carros no Brasil, atraindo muitos curiosos. O cenário urbano da cidade era cheio de mercadinhos e feiras, revelando um crescimento rápido que transformaria São Paulo no motor econômico do país.
Cultura, moda e lazer: do lança-perfume ao futebol
O cotidiano cultural do Brasil de um século atrás era vibrante. O Carnaval, por exemplo, era animado por marchinhas e pelo uso do lança-perfume, um tipo de entorpecente que fazia parte das festividades. A música que estourava em 1921, “Protocolo”, foi inspirada na visita do rei belga. O cinema também começava a ganhar popularidade, com revistas trazendo estrelas internacionais, como a atriz Bebe Daniels.
Em relação à moda, as normas eram rigorosas, mas já mostravam sinais de mudança. A tradição do uso de chapéu era quase obrigatória para quem queria ser visto em público. Por outro lado, as mulheres começaram a abandonar os espartilhos apertados, e os vestidos, embora longos, já mostravam um pouco mais das pernas. Ao mesmo tempo, o futebol começava a se consolidar como um esporte gigantesco. Em 1922, por exemplo, o Corinthians conquistou o campeonato paulista, enquanto o América levou o carioca, superando grandes clubes como Flamengo e Fluminense.
Política e conflitos: revoltas militares e o cangaço no sertão
O cenário político do Brasil em 1920 era agitado. O país era governado por Epitácio Pessoa, mas as tensões eram altas, com várias revoltas militares surgindo devido às insatisfações de setores do exército. Em 1922, Arthur Bernardes assumiu a presidência, herdando um clima de incerteza que acabaria culminando na Revolução de 1930, sob a liderança de Getúlio Vargas. Essa agitação contrastava fortemente com os conflitos que aconteciam em outras partes do país.
No sertão nordestino, o cangaço — liderado por figuras como Lampião — se tornava mais visível. Os cangaceiros, que realizavam saques e desafiavam as autoridades, geravam tanto medo quanto uma espécie de respeito popular. Lampião, um jovem que se tornaria um dos cangaceiros mais conhecidos do Brasil, aparecia nesse cenário repleto de tensões sociais e políticas.
Como você vê esses contrastes do Brasil de 100 anos atrás? Estranhamente, mesmo com tantas mudanças e avanços, algumas das desigualdades daquela época ainda parecem estar presentes na nossa sociedade hoje.