Brasil opta por asfalto em vez de estradas de concreto duráveis

A escolha pelo asfalto sempre foi vista como a opção mais econômica e rápida para a construção de rodovias. Mas, especialistas alertam que essa lógica pode sair cara a longo prazo, principalmente em estradas com muito tráfego. O desgaste do asfalto acontece em poucos meses, e isso resulta em contínuas obras e gastos adicionais. Por outro lado, o concreto, que é bastante utilizado nos Estados Unidos desde os anos 50, pode durar entre 30 e 60 anos com pouca manutenção.
Nos Estados Unidos, a decisão de usar concreto veio de um planejamento estratégico que começou no governo de Dwight D. Eisenhower. Eles se inspiraram na eficiência das rodovias alemãs na Segunda Guerra Mundial, buscando garantir uma infraestrutura robusta para a defesa e a economia nacional.
Aqui no Brasil, porém, a situação é um pouco diferente. Fatores como ciclos políticos curtos, orçamentos apertados e a força da indústria do asfalto mantêm o uso desse material em alta, mesmo representando custos mais altos no futuro e impactos negativos para os motoristas.
Impactos no tráfego e no consumo de combustível
O pavimento rígido feito de concreto distribui melhor o peso dos veículos. Isso ajuda a evitar afundamentos e fissuras, mantendo a pista estável e reduzindo a resistência ao rolamento. Um detalhe interessante é que isso pode resultar em economia de combustível, principalmente para caminhões e ônibus.
Outra vantagem do concreto é que ele reflete melhor a luz, o que pode reduzir em até 30% os custos com iluminação pública nas vias. Além disso, acaba diminuindo a formação de ilhas de calor nas cidades. Isso traz mais conforto e segurança para quem dirige.
Já o asfalto, quando se deforma, torna a condução mais difícil para os veículos, o que aumenta o consumo de combustível e acelera o desgaste das peças. Essa situação pode complicar a logística em rotas de alta demanda.
Exemplos brasileiros de sucesso
Embora o asfalto ainda seja o material mais usado, o Brasil tem algumas rodovias de concreto histórico que estão em boas condições. Um exemplo é a estrada da Serra de Petrópolis, inaugurada em 1928, além da Avenida Farrapos em Porto Alegre, que se mantém desde 1940.
Nos últimos anos, algumas regiões estão investindo mais no concreto. O Paraná, por exemplo, se destacou com 500 km de rodovias de concreto e mais de R$ 3 bilhões em investimentos. Técnicas como o whitetopping, que aplica concreto sobre asfalto já existente, têm facilitado as obras e diminuído os custos.
Em Campinas (SP), cerca de 92% do sistema BRT utiliza pavimento de concreto. Isso garante durabilidade e menos interrupções para manutenção, servindo de inspiração para outros municípios.
Critérios técnicos e uso estratégico
De acordo com órgãos internacionais, o concreto é recomendado para rodovias que recebem mais de 8 mil veículos pesados por dia, em áreas com solo instável ou em climas severos. Além disso, o concreto é considerado uma opção sustentável, pois permite o uso de materiais reciclados e emite menos CO₂ ao longo de sua vida útil. Rodovias na Alemanha, França e Bélgica têm se mostrado eficazes, com décadas de uso em perfeito estado.
O Brasil já possui profissionais qualificados e tecnologia apropriada para aumentar o uso do concreto. O que falta é priorizar rotas importantes como a BR-163, BR-101 e BR-116.
Desafios para a mudança
Para que essa mudança aconteça, especialistas sugerem começar pelas rodovias concedidas à iniciativa privada, onde a qualidade e o planejamento a longo prazo podem ser melhor controlados.
O grande desafio é romper com essa ideia de que “o barato sai caro”. Precisa-se fazer substituir as constantes obras de manutenção por um investimento mais planejado, que atenda às necessidades por décadas.
O debate continua: com tantos dados e exemplos disponíveis, por que o Brasil insiste em manter um modelo que não traz resultados duradouros?