O movimento do útero e seu impacto na saúde feminina

O útero, embora pareça fixo, é na verdade bastante móvel dentro da cavidade pélvica. Essa movimentação natural acontece ao longo da vida reprodutiva da mulher e influencia diretamente a fertilidade, as dores menstruais e até mesmo o funcionamento do sistema imunológico.
Tanto mulheres em idade fértil quanto aquelas que já passaram pela menopausa sentem os efeitos dessas mudanças, que ocorrem durante o ciclo menstrual, na gravidez ou em condições específicas de saúde. Essa nova compreensão sobre a mobilidade do útero ganhou força com especialistas como Michelle Spear, da Universidade de Bristol, que ressaltam a importância desse órgão para a saúde reprodutiva.
Embora a anatomia moderna já tenha desmistificado algumas ideias equivocadas, como o famoso "útero errante", ainda há muito a aprender sobre como esse órgão vital realmente funciona.
O útero é fixo? Nem tanto. Entenda sua mobilidade
O útero é sustentado por ligamentos que ficam entre a bexiga e o reto, permitindo que ele se incline e oscile em diferentes direções. A posição mais comum é a anteversão, em que o útero está voltado para a frente. No entanto, muitas mulheres apresentam o útero em retroversão, apontando para a coluna.
Essas variações são completamente normais e podem afetar diferentes aspectos da saúde. Por exemplo, mulheres com útero retrovertido podem sentir dor na região lombar durante a menstruação, enquanto outras podem sentir desconforto na parte inferior da barriga. Essa movimentação também influencia funções como a micção e o trânsito intestinal, especialmente durante a gravidez.
Mobilidade e sistema imunológico: o que isso tem a ver?
Pouca gente fala sobre como o útero age no sistema imunológico, mas essa relação é fundamental. A movimentação do útero e a resposta hormonal que ela provoca ajudam a regular a entrada de espermatozoides, proteger contra infecções e preparar o corpo para uma possível gravidez.
Durante a ovulação, o colo do útero sobe e se torna mais macio, facilitando a fecundação. Após a ovulação, ele volta a uma posição mais baixa e firme, ajudando a proteger o corpo contra agentes externos. Essas adaptações estão ligadas às variações hormonais e mostram que o útero não é apenas um órgão reprodutor, mas atua ativamente no sistema imune feminino.
O mito do “útero errante” e seus efeitos históricos
Durante muito tempo, acreditava-se que o útero poderia "vagar" pelo corpo, causando sintomas como desmaios, falta de ar e até histeria, um termo que vem da palavra grega “hystera”, que significa útero. Tratamentos curiosos, como cheirar ervas ou usar pesos no abdômen, chegaram a ser prescritos como "cura" para o problema.
Esse mito, que já foi desmascarado pela ciência desde o século XVIII, continuou a influenciar diagnósticos médicos até o início do século XX. Hoje, compreendemos que o útero se mexe, mas de maneira controlada e saudável, sendo um órgão dinâmico e não rebelde.
As trompas de Falópio: mais móveis do que se pensava
Um aspecto fascinante da anatomia reprodutiva feminina é o comportamento das trompas de Falópio. Diferente do que muitos imaginam, elas não estão fixas aos ovários. Todo mês, suas fímbrias "procuram" pelo óvulo liberado. Essa mobilidade é crucial para a fecundação e também explica o risco de gravidez ectópica, quando o embrião se desenvolve fora do útero.
O fato de as trompas serem flexíveis demonstra como a mobilidade do útero e suas estruturas associadas são essenciais para o bom funcionamento do sistema reprodutivo e imunológico.
Ovários, útero e a dança da fertilidade
Os ovários, assim como o útero, também não são estáticos. Embora se movimentem menos que as trompas, estão presos por ligamentos, permitindo certa flexibilidade. Por exemplo, após uma histerectomia (remoção do útero), os ovários podem mudar de posição, o que pode impactar exames de imagem e planos cirúrgicos.
Em casos raros, essa mobilidade também pode levar a uma condição chamada torção ovariana, que é bastante dolorosa e necessita de atendimento médico urgente. No entanto, na maioria das vezes, a movimentação dos órgãos é saudável e necessária.
Quando a mobilidade se torna um problema?
Embora seja normal, a mobilidade do útero pode levar a algumas complicações. O prolapso uterino, por exemplo, ocorre quando o útero desce pela vagina devido ao enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico — algo comum após múltiplos partos ou na velhice.
Outro problema pode ser a aderência dos órgãos, que pode surgir devido a cirurgias anteriores ou condições como a endometriose. Nessas situações, a perda da mobilidade pode causar dores intensas e inflamações. Portanto, é importante acompanhar a saúde do útero e buscar atenção médica quando a mobilidade for alterada ou limitada.