Hinode: da garagem a navios de luxo, rumo ao renascimento com Gusttavo Lima

A Hinode é um exemplo bem interessante do fenômeno do empreendedorismo aqui no Brasil. Combinando carisma, produtos de luxo e a promessa de uma ascensão financeira rápida, a marca começou de forma bem modesta em uma garagem em São Paulo. O negócio, que era da família Rodrigues, rapidamente transformou perfumes em um símbolo de sucesso. Vendedores ganharam espaço e viam na empresa uma chance para mudar de vida. Nos anos seguintes, a Hinode cresceu tanto que lotava estádios, cruzeiros e auditórios, movimentando bilhões e se tornando um verdadeiro ícone de crescimento.
Porém, o que fez a Hinode brilhar também acabou contribuindo para sua queda. O modelo de marketing multinível, que focava bastante no recrutamento, além da dependência de compras mensais para manter os bônus, acabou prejudicando a sustentabilidade do negócio. Depois de viver momentos difíceis e perder credibilidade, a Hinode agora busca se reinventar. A nova fase inclui uma abordagem mais transparente e tecnológica, além de uma parceria de peso: o cantor Gusttavo Lima.
O início na garagem e o sonho de superação
A história da Hinode começou em 1988, quando Francisco e Adelaide Rodrigues decidiram fabricar e vender perfumes para aumentar a renda da família. A revenda direta virou a base do negócio, e o lema era claro: dar oportunidade para quem queria empreender.
Por duas décadas, a empresa se manteve com um crescimento limitado, até que o filho mais velho, Sandro Rodrigues, viu uma oportunidade no marketing multinível. Esse modelo não só permitia lucros com as vendas, mas também com o recrutamento de novos consultores. Após um início um pouco tímido, a persistência da família transformou a Hinode em um verdadeiro fenômeno nacional nos anos 2010.
O auge e os navios de luxo
Entre 2012 e 2018, a Hinode chegou ao seu pico de sucesso. A marca dominava o mercado de venda direta, com eventos grandiosos que celebravam os consultores de destaque. Eles eram premiados com carros, viagens internacionais e até cruzeiros luxuosos, simbolizando o sucesso prometido pela empresa.
As grandes reuniões lotavam estádios, como o Allianz Parque, e muitos desses consultores se tornaram influenciadores no mundo do marketing de rede. Em uma fase de ouro, a Hinode contava com mais de 800 mil consultores e faturava mais de R$ 2,8 bilhões em 2018. Era um período de prosperidade e pertencimento.
A queda: ativação mensal, saturação e desabastecimento
Mas nem tudo dura para sempre. O modelo de crescimento da Hinode começou a desmoronar quando a prática de ativação mensal, que exigia compras mínimas para manter os bônus, gerou uma série de problemas. Muitos consultores acabaram acumulando produtos sem conseguir vendê-los, o que só trouxe frustração.
Além disso, o mercado começou a saturar. As vendas não acompanharam o ritmo do recrutamento, e a operação enfrentou falhas graves. Produtos começaram a faltar, os pedidos demoravam muito para chegar e a inovação ficou escassa. Isso resultou na perda da confiança dos consultores, e a marca passou a ser vista como uma pirâmide financeira, mesmo operando legalmente como um marketing multinível. A consequência foi drástica: mais de 200 mil consultores foram perdidos, e o faturamento despencou para menos de R$ 800 milhões em 2023.
A reestruturação e o rebranding da Hinode
Diante do colapso iminente, a Hinode começou a reformular sua gestão. A família Rodrigues se afastou das operações diárias, e executivos experientes assumiram a liderança. Com Marília Roca como nova CEO, a empresa iniciou um processo de reestruturação focado na transformação digital e na recuperação da imagem pública.
Agora, a marca adota práticas de sustentabilidade e se distancia da ostentação dos tempos anteriores. Em 2024, para um novo começo, a Hinode firmou uma parceria com Gusttavo Lima, se tornando a distribuidora oficial da linha de fragrâncias GL. A ideia aqui é conectar-se novamente com um público mais jovem e reconstruir sua reputação com novos produtos e credibilidade.
A trajetória da Hinode é um claro exemplo de como um sucesso repentino pode se tornar uma armadilha se não houver uma estrutura sólida por trás. O marketing multinível a levou ao topo, mas o exagero na dependência do recrutamento prejudicou o equilíbrio entre vendas e consumo real. Agora, com foco em branding, governança e parcerias fortes, a Hinode busca recuperar a confiança. Essa nova fase é menos voltada para o glamour e mais sobre reconstrução diante de um mercado que se mostrou cético.



