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Reservatório que mudou o mapa de Goiás e gerou um lago artificial

Quando a água começou a subir no vale do rio Tocantins, no final da década de 1990, algo incrível aconteceu no Centro-Oeste brasileiro. Moradores de pequenos povoados e fazendas assistiram a uma transformação geográfica impressionante. O enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa não só produziu energia para o Brasil; ele criou o maior lago artificial do país, com 54,4 bilhões de metros cúbicos de água. Esse novo lago alterou para sempre o mapa do interior goiano, submergindo comunidades e mudando paisagens que existiam há muito tempo.

O reservatório é tão vasto que ocupa áreas de vários municípios goianos, formando uma enorme extensão aquática com cerca de 1.784 km². Para se ter uma ideia, esse lago é maior que algumas capitais brasileiras e delicia quem visita com suas águas tranquilas. Contudo, mais do que números, Serra da Mesa representa como uma obra pode impactar a vida das pessoas e o meio ambiente em regiões distantes.

A grandiosidade técnica de uma das maiores obras hídricas do país

Construída pela antiga Furnas Centrais Elétricas, a Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa exigiu uma barragem monumental, com mais de 1.500 metros de comprimento e mais de 150 metros de altura. Quando a barragem foi concluída, ela estabeleceu o maior reservatório do Brasil em volume útil. E, mesmo que conceituais como Itaipu e Sobradinho tenham extensões maiores de espelho d’água, eles armazenam menos água.

O projeto do reservatório levou em conta as secas severas que são características do Centro-Oeste. O volume imenso de água age como um amortecedor, garantindo que as turbinas funcionem normalmente, mesmo em períodos difíceis. Essa estratégia transformou Serra da Mesa em uma peça chave do sistema elétrico nacional.

O enchimento começou no final de 1996 e levou meses para chegar ao nível operacional. Durante esse tempo, cidades inteiras foram relocadas, e muitas casas precisaram ser reconstruídas longe da água que subia. Conforme o lago tomava forma, áreas de montanhas, vales e até leitos de rios antigos desapareceram sob a superfície azul que cobre hoje esse vasto espaço.

Cidades e comunidades submersas: o impacto humano e o deslocamento inevitável

A formação desse lago enorme trouxe um impacto profundo na vida de muitas pessoas. Milhares de pessoas precisaram deixar suas casas, muitas vezes herdadas de gerações. Comunidades inteiras, como São José da Serra e várias bordas rurais, foram submersas, obrigando os moradores a buscar novas moradias e novos começos.

Essa mudança no modo de viver trouxe sentimentos mistos. Por um lado, havia a tristeza de deixar o que era conhecido, mas, por outro, havia a esperança de novas possibilidades e infraestrutura que surgiria. O turismo, como a pesca esportiva, começou a se desenvolver nessa nova realidade.

Entretanto, a transformação não veio sem consequências. Quando o lago atingiu seu volume máximo, grandes áreas de floresta desapareceram, e muitas trilhas históricas se tornaram apenas memórias.

A formação de um novo ecossistema e o nascimento de um lago gigante

Com uma área equivalente à cidade de São Paulo, Serra da Mesa gerou um ambiente aquático rico, que afetou diretamente a fauna e flora local. O lago aumentou a umidade da região e alterou os padrões de chuvas, atraindo muitas aves migratórias.

A vida aquática também se adaptou e se reorganizou. O reservatório se tornou um habitat ideal para várias espécies, como tucunaré e traíra. Isso fez de Serra da Mesa um dos maiores centros de pesca esportiva do Brasil. Munícipios que antes eram pouco visitados agora recebem turistas de todo o país.

Além disso, o lago tem profundidades que chegam a mais de 60 metros em certos pontos, criando formações submersas que atraem pesquisadores e mergulhadores. Essa nova dinâmica ecológica trouxe um novo fôlego à região.

O lago que transformou a economia e redesenhou o interior de Goiás

Além de gerar energia e fomentar o turismo, Serra da Mesa proporcionou uma nova fase de ocupação e crescimento territorial. Regiões que antes sofriam com a seca agora têm acesso à água, beneficiando práticas como irrigação e lazer. Cidades como Uruaçu e Niquelândia começaram a enxergar o lago como um ativo econômico, criando novos espaços urbanos e zonas voltadas para o turismo náutico.

Essa reconfiguração territorial mudou a forma como a população se orienta na região. Hoje, o reservatório é um marco, levando a novos traçados de estradas e modificando rotas que já existiam.

CRucialmente, a obra levantou questões sobre desenvolvimento sustentável e o equilíbrio do reservatório com o ecossistema. Esses debates continuam a ser importantes para a realidade da região.

Um mar interior no coração do Cerrado

Hoje, quem visita Serra da Mesa é surpreendido pela beleza única de um autêntico "mar interior" no Brasil. Com suas águas azuis e profundas, rodeado de serras e formações rochosas, o cenário é de encher os olhos. Esse novo território, moldado pela engenharia e pela geografia, transformou a identidade da região.

Contrapondo-se à aridez do sertão anterior, o lago trouxe novas oportunidades e um patrimônio paisagístico que hoje é parte essencial da vida local. Assim, de uma obra feita para atender ao sistema elétrico, nasceu um ambiente que conecta a natureza e a memória social de um povo. E esse espelho d’água impressionante continua a influenciar a vida de milhares, refletindo um novo capítulo na história do interior goiano.

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