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Elon Musk e a cultura workaholic do século 21

O nome Elon Musk é conhecido mundialmente, não só pela sua capacidade de inovação, mas também pela maneira intensa como gerencia suas empresas. Imagens dele dormindo no chão de fábricas ou trabalhando incansavelmente semana após semana já se tornaram comuns. Esse estilo de liderança, apelidado de “wartime CEO” — ou CEO em tempo de guerra — descreve uma abordagem em que cada desafio é visto como uma batalha a ser vencida, o que gera tanto admiração quanto preocupação.

Por um lado, a dedicação extrema de Musk é considerada a força motriz por trás do sucesso de empresas como a Tesla e a SpaceX. Porém, isso também levanta questões importantes sobre saúde mental e os custos associados a esse tipo de pressão. No Brasil, onde se discute bastante sobre jornadas longas de trabalho, o exemplo de Musk se torna um ícone dessa polarização: até que ponto é válido sacrificar tanto para alcançar o progresso?

O que é o estilo “Wartime CEO”?

Quando falamos de “wartime CEO”, estamos nos referindo a um líder que vive em um estado contínuo de crise. A ideia é bem direta: para alcançar resultados extraordinários em tempos difíceis, é preciso uma entrega total, deixando de lado o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Musk tem utilizado essa mentalidade em momentos decisivos:

Produção do Tesla Model 3 (2018): Ele se referiu a esse período como o “inferno da produção”. Para cumprir a meta de produzir 5.000 carros por semana, Musk dormiu na fábrica da Tesla, em Fremont, Califórnia, e chegou a trabalhar até 22 horas por dia, evitando que a empresa enfrentasse a falência.

Aquisição do Twitter/X (2022): Após comprar a rede social, Musk voltou a se instalar no escritório em São Francisco. Demitiu mais de 80% dos funcionários que trabalhavam lá e pediu um comprometimento “hardcore” dos que ficaram, estipulando jornadas de trabalho superiores a 80 horas por semana.

Desafios da Tesla em 2025: Quando as vendas começaram a cair, Musk anunciou nas redes sociais que retornaria à rotina de “dormir na fábrica todos os dias da semana”, demonstrando que essa mentalidade de guerra está sempre ativa nos momentos de pressão.

A admiração: o gênio que entrega resultados

Para muitos empreendedores e seguidores de Musk, essa entrega é inspiradora. Eles acreditam que os resultados falam por si — a Tesla se tornou a montadora mais valiosa do mundo e a SpaceX revolucionou a exploração espacial. A ideia é que jornadas longas e sacrificiais são necessárias para “mudar o mundo”. Essa imagem de um líder que se dedica junto de sua equipe é vista como um sinal de comprometimento, um modelo a seguir por quem busca o sucesso.

A crítica: o custo humano da inovação

Por outro lado, o estilo de Musk é criticado por evidenciar uma cultura de “workaholism” que pode ser tóxica. Os críticos apontam os altos custos humanos dessa filosofia:

  • Burnout e alta rotatividade: Muitas pessoas que trabalharam com ele relatam ambientes de alta pressão, levando a altos índices de esgotamento e constante troca de funcionários.

  • Impacto na saúde mental: Musk já admitiu que trabalhar 120 horas por semana “não é bom” e que a falta de sono prejudica sua produtividade e leva a erros.

No Brasil, essa conversa ganha contornos ainda mais complexos. Com 40% dos trabalhadores enfrentando jornadas superiores às 44 horas semanais e 60% indicando sintomas de burnout, segundo a FGV, o modelo “wartime CEO” é muitas vezes visto como uma glorificação da exploração.

Um modelo insustentável para o futuro?

A grande questão que se coloca é se esse modelo é sustentável a longo prazo. Pesquisas apontam que a produtividade pode cair drasticamente após um certo número de horas trabalhadas. Além disso, a falta de descanso pode comprometer a criatividade e a qualidade na tomada de decisões.

A Geração Z, que está entrando no mercado de trabalho, valoriza cada vez mais o equilíbrio e a saúde mental. Nesse cenário, o modelo de sacrifício absoluto parece divergir das novas tendências. Elon Musk, com todo seu talento e controvérsias, nos leva a refletir sobre o futuro do trabalho e como ambição e inovação podem coexistir com o bem-estar.

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