Alasca preserva traços da cultura russa até hoje

O Alasca é um lugar fascinante, conhecido por suas paisagens geladas e extensas áreas selvagens. Mas, além de suas belezas naturais, esse estado norte-americano guarda um pedacinho da história russa que perdura há mais de 150 anos. Essa herança está em cada esquina; nas ruas, na arquitetura e até nas tradições, revelando um passado que ainda tem influência no cotidiano dos alaskanos.
Recentemente, líderes importantes, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se encontraram em Anchorage, no coração do Alasca. Esse encontro, além de ser histórico, destaca a conexão especial entre o Alasca e a Rússia. A reunião, marcada para às 16h30, no horário de Brasília, contou apenas com a presença dos dois presidentes e de seus intérpretes, enquanto suas equipes participaram de um almoço de trabalho. Após as discussões, rolou uma coletiva de imprensa, às 20h30, onde todos puderam saber o que foi debatido.
O Alasca e suas raízes russas
Quando pensamos no Alasca, vem à mente suas vastas paisagens, mas a cultura e a história são igualmente ricas. O estado carrega as marcas profundas do período em que foi colonizado pelos russos. Isso se reflete na cultura local, na arquitetura e até mesmo nos nomes dos lugares.
A colonização russa começou muito antes da venda do território aos Estados Unidos, que aconteceu em 1867. Mesmo com a mudança de domínio, os vestígios dessa antiga colônia ainda estão presentes nas comunidades, mantendo vivas as tradições e costumes.
A expansão russa até o Pacífico
A história da exploração russa começou no século XVI, quando os primeiros exploradores avançaram pela Sibéria. Em 1639, eles chegaram ao Oceano Pacífico. No século XVIII, expedições começaram a mapear a costa do Alasca, com o navegador Vitus Bering liderando uma importante jornada em 1741. Essa expedição representou o primeiro contato europeu com a região.
Logo depois, caçadores e comerciantes conhecidos como promyshlenniki se estabeleceram na área para aproveitar o lucrativo comércio de peles de lontra-marinha.
A criação da Companhia Russo-Americana
Em 1799, o governo russo fundou a Companhia Russo-Americana (RAC), que ganhou o monopólio do comércio de peles e autoridade administrativa no Alasca. Sob a liderança de Aleksandr Baranov, a empresa fundou a cidade de Novo-Arkhangelsk — hoje conhecida como Sitka — que se tornou a capital da América Russa. A RAC não apenas gerenciava as atividades comerciais, mas também estabelecia políticas coloniais e interagia com os povos indígenas.
Os efeitos da chegada dos russos foram profundos, especialmente para comunidades como os Aleutas, Alutiiq e Tlingit. As relações eram complexas, variando entre alianças comerciais e conflitos como a famosa Batalha de Sitka, em 1804.
Venda do Alasca
No século XIX, o futuro econômico da colônia ficou em dúvida. A distância da Rússia, os altos custos e a competição com britânicos levaram o czar Alexandre II a considerar a venda. Assim, em 1867, os Estados Unidos compraram o Alasca por 7,2 milhões de dólares. O fato ficou conhecido como "Loucura de Seward", em homenagem ao secretário de Estado americano que conduziu as negociações.
Herança arquitetônica
A influência russa é claramente vista na arquitetura. A Catedral de São Miguel, em Sitka, construída em 1848, foi o centro espiritual da Igreja Ortodoxa na América do Norte e, após um incêndio em 1966, foi reconstruída mantendo seu estilo original. Outro exemplo é a Igreja da Ascensão de Nosso Senhor, em Unalaska, que tem uma conexão especial com a fusão de estilos arquitetônicos e históricos.
A religião e a cultura
A Igreja Ortodoxa Russa, que chegou ao Alasca em 1794, desempenha um papel central na vida cultural da região. Em várias comunidades, essas igrejas se tornaram não apenas centros religiosos, mas também sociais. Uma tradição interessante, o “Slaaviq”, celebra o Natal com visitas a casas, onde grupos cantam músicas que misturam elementos indígenas e russos.
Nomes e língua
Os nomes das cidades no Alasca são um testemunho da herança russa que perdura. Localidades como Sitka e Kodiak ainda fazem eco a esse passado. Além disso, em Ninilchik, um raro dialeto russo conhecido como niniltchik sobrevive como uma relíquia linguística, despertando o interesse de linguistas.
Culinária e artesanato
O Alasca também reflete suas raízes russas na gastronomia. Pratos como borscht e sopas à base de vegetais e peixes defumados são frequentes na mesa dos alaskanos. Mesmo o pão preto, trazido pelos colonizadores, ainda é uma tradição em algumas comunidades.
O artesanato, especialmente a confecção de ícones religiosos e utensílios do dia a dia, mistura técnicas russas com as tradições indígenas.
Função social das igrejas
Durante a colonização, as igrejas ortodoxas não apenas eram locais de culto, mas também funcionavam como escolas e centros de apoio social. Suas cúpulas típicas e estilos arquitetônicos se tornaram símbolos da presença russa, como no caso do Mosteiro de São Herman, em Kodiak, um local de peregrinação que preserva a memória de um dos primeiros missionários ortodoxos na região.
Preservação da memória
O Parque Histórico Nacional de Sitka guarda vestígios de um antigo forte russo, enquanto museus como o Estadual do Alasca, em Juneau, exibem documentos e utensílios que narram a história da presença russa. A influência desse período, incluindo a introdução de escolas missionárias, ajudou a alfabetizar muitos indígenas e deixou um impacto duradouro na cultura local.
A venda vista hoje
No passado, a compra do Alasca foi criticada, mas descobertas como ouro e petróleo transformaram o estado em um valioso ativo econômico. Hoje, muitos historiadores veem essa negociação como uma estratégia acertada dos Estados Unidos.
Festivais e turismo
Celebrar a herança cultural russa é comum em eventos como o Dia do Alasca Russo. Sitka e outras cidades promovem passeios e exposições que ajudam a manter viva essa história. O turismo também desempenha um papel crucial, atraindo visitantes interessados nas interações culturais entre Rússia e Alasca.
O Alasca, assim, se mostra um verdadeiro mosaico de influências, onde a presença russa, mesmo após mais de um século e meio, continua a deixar marcas profundas na língua, religião e tradições. É uma história rica que reflete como diferentes culturas podem se entrelaçar e gerar uma nova identidade ao longo do tempo.