Ilha brasileira atrai milionários, mas tem passado sombrio

A Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, se tornou um verdadeiro refúgio para casais e famílias em busca de sossego e natureza exuberante. Com seus 193 km², a ilha é um convite ao relaxamento, oferecendo praias isoladas, trilhas na Mata Atlântica e um ambiente hoteleiro focado no conforto e na privacidade. Sem circulação de carros e com regras rigorosas sobre construções, é um lugar que preserva tanto a natureza quanto a exclusividade.
As praias mais famosas, como Lopes Mendes, Aventureiro e Caxadaço, aparecem em rankings internacionais e atraem visitantes que desejam uma conexão genuína com a natureza. Os passeios de barco pelas lagoas Azul e Verde, assim como trilhas de travessia que podem levar até sete dias, tornam a ilha um paraíso para os fãs de ecoturismo. Celebridades e influenciadores também têm contribuído para colocar esse destino no mapa do turismo de alto padrão.
Além das belezas naturais, a Ilha Grande tem se destacado pelo turismo de bem-estar. Retiros espirituais, refeições com ingredientes orgânicos e atividades como yoga e meditação são algumas das opções que atraem aqueles que buscam relaxamento e reconexão consigo mesmos. Durante a alta temporada, especialmente em férias e meses de verão, o fluxo de turistas cresce, trazendo um respiro para as economias locais.
Uma história de isolamento, prisões e resistência
Muitos não sabem, mas por quase um século, a Ilha Grande foi o lar de um dos presídios mais temidos do Brasil: o Instituto Penal Cândido Mendes, que funcionou na Praia de Dois Rios de 1903 a 1994. Esse presídio, que inicialmente abrigava presos comuns, passou a receber criminosos perigosos e, até mesmo, presos políticos durante a ditadura militar.
A convivência forçada entre diferentes grupos resultou em trocas de estratégias e ideologias. Nos anos 70, essa mistura de militantes de esquerda e criminosos deu origem ao Comando Vermelho, que se tornou uma das facções mais influentes do país. O lema “Paz, Justiça e Liberdade” surgiu dentro das paredes do presídio, simbolizando a luta dos detentos contra a opressão.
As condições de encarceramento eram extremas. Relatos de tortura, repressão e rebeliões são parte da história, e a memória dessas experiências continua a ecoar nas narrativas dos ex-detentos e em documentos históricos.
As ruínas que permanecem e o silêncio da história
Hoje, é possível visitar as ruínas do antigo presídio, acessíveis por uma trilha que parte da Vila do Abraão, o principal ponto de entrada da ilha. Esse local, agora coberto pela vegetação, mantém celas e corredores que contrastam com a paisagem paradisíaca. Essa visita é uma experiência que muitos consideram impactante, trazendo à tona a gravidade do passado.
Organizações estão promovendo visitas guiadas que oferecem contextos históricos e sociais, e grupos de preservação tentam garantir que a memória desse período não caia no esquecimento. Há também idéias para transformar o antigo presídio em um memorial, com exposições sobre a relação com o surgimento de facções.
O papel dos caiçaras na preservação da Ilha Grande
Antes do turismo em massa, a Ilha Grande era habitada por comunidades caiçaras, que viveram da pesca artesanal e do cultivo sustentável. Esses moradores sempre tiveram um papel importante na preservação do meio ambiente, cuidando das trilhas e áreas de mangue. Hoje em dia, muitos deles atuam como guias e barqueiros, contribuindo para a economia local sem abrir mão de suas tradições.
Infelizmente, muitos turistas ainda desconhecem a riqueza histórica da ilha além de suas praias. O contraste entre a beleza natural e as marcas deixadas pelo passado penal não é explorado como deveria nas campanhas de turismo, que tendem a focar somente nos aspectos paradisíacos.
A Ilha Grande continua atraindo milhares de visitantes todos os anos, e sua história é muito mais do que um cenário de águas cristalinas. Ao explorar essa ilha, os visitantes não estão apenas em um local de beleza, mas também em um espaço carregado de resistência e transformação social. A memória da prisão pode estar escondida sob a beleza da mata atlântica, mas ela ainda ecoa por ali.