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Pele de peixe brasileiro pode tratar cegueira em cães a baixo custo

Pesquisadores brasileiros estão inovando na área de oftalmologia veterinária ao transformar um resíduo da indústria pesqueira em uma solução incrível. A pele da tilápia-do-nilo, um peixe muito cultivado no Brasil, é agora utilizada para criar um biotecido especial que trata úlceras e lesões graves na córnea de cães, ajudando a evitar a cegueira. Essa técnica já trouxe de volta a visão para centenas de animais!

Essa pesquisa teve origem no Núcleo de Produção e Desenvolvimento de Medicamentos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Eles são referência no uso da pele de tilápia para casos de queimaduras e medicina regenerativa. A questão é simples: ao usar a membrana de colágeno da pele do peixe como um enxerto em cirurgias de córnea, os veterinários conseguem acelerar a cicatrização e restaurar a transparência do olho.

Da queimadura à cegueira: a trajetória da pele de tilápia na ciência brasileira

Desde 2015, a pele de tilápia começou a ganhar destaque na medicina, quando começou a ser testada como curativo biológico para pacientes queimados. Os resultados foram tão bons que logo chamou a atenção no Brasil e até fora dele. O cirurgião plástico Edmar Maciel liderou essa pesquisa, que se expandiu para outras áreas da medicina regenerativa, incluindo a oftalmologia.

Neste contexto, a veterinária Mirza de Souza Melo focou em adaptar a pele de tilápia para tratar lesões na córnea de cães e gatos. Durante seu mestrado, ela comparou a matriz dérmica da tilápia com membranas biológicas importadas e enxertos tradicionais, mostrando que o biotecido brasileiro não só protege a superfície ocular, mas também ajuda na regeneração do tecido, mantendo a transparência da córnea e salvando a visão dos bichinhos.

Como funciona o biotecido de colágeno que trata úlceras de córnea

O processo começa com a pele da tilápia-do-nilo, que é retirada de peixes que já fazem parte da cadeia produtiva de alimentos. Essa pele passa por etapas cuidadosas de descontaminação e descelularização. O resultado é uma matriz enriquecida em colágeno. Este material se transforma em uma membrana biotecnológica que serve de “andaime” para o crescimento celular.

Durante a cirurgia, o veterinário coloca essa membrana sobre a córnea lesionada como um curativo avançado, criando um ambiente ideal para a cicatrização. Com o tempo, a membrana libera colágeno e outras proteínas essenciais enquanto é absorvida pelo organismo do animal. Estudos já mostraram que os cães tratados com essa matriz dermica tiveram um tempo de cicatrização e alta hospitalar mais curtos do que aqueles que utilizaram outras opções menos eficazes.

Baixo custo, produção nacional e potencial uso em humanos

O grande trunfo desse projeto é que a tilápia é um peixe super abundante no Brasil. Isso significa que o país pode contar com uma fonte acessível e barata para produzir essa matriz. Enquanto muitos outros tratamentos atuais são baseados em materiais importados, essa alternativa brasileira não só reduz custos, mas também geração de resíduos.

Os resultados positivos observados em cães animaram a equipe da UFC a explorar como essa técnica poderia ser aplicada em humanos. Eles estão investigando a possibilidade de usar a matriz dérmica na recomposição da dura-máter, a membrana que envolve o cérebro, durante cirurgias cranianas. Ensaios em animais mostraram que esse material não causa inflamação e a equipe já está aguardando a aprovação ética para iniciar os testes em pacientes.

O que muda para tutores e para a oftalmologia veterinária no Brasil

Para os tutores, a principal novidade é a esperança de que animais que antes poderiam ficar cegos agora tenham mais chances de recuperar a visão, desde que recebam tratamento adequado a tempo. A técnica não substitui a consulta veterinária, mas é um recurso valioso nas mãos de oftalmologistas habilidosos.

Para a oftalmologia veterinária, a pele de tilápia representa um verdadeiro avanço tecnológico com uma identidade brasileira. Além de promover bem-estar animal, essa inovação combina ciência com a ideia de economia circular. No entanto, a expansão desse método levanta importantes questões éticas e regulatórias, como garantir a produção em larga escala e com qualidade.

Essas questões precisam ser abordadas à medida que a técnica se torna mais popular, para que essa inovação possa beneficiar ainda mais animais e, quem sabe, até humanos no futuro.

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