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Índia avança em reflorestamento para restaurar 1 milhão de hectares

A Índia é um país repleto de contrastes, onde megacidades lotadas convivem com vastas áreas rurais. E, apesar de muitas vezes passar despercebido, o país está liderando um dos maiores programas de reflorestamento do mundo. Um quarto do seu território enfrenta alguma forma de degradação, o que representa um desafio enorme. Para contornar essa situação, o governo indiano tem investido em uma estratégia de longo prazo que inclui reflorestamento em massa, recuperação de áreas secas e plantio de espécies nativas, com o objetivo de transformar zonas ameaçadas pela desertificação em produtivos cinturões verdes.

Falando em números, a dimensão dessa ação é impressionante. Nos últimos anos, milhões de voluntários e governos estaduais se mobilizaram em campanhas anuais de plantio, especialmente em regiões como Uttar Pradesh, Madhya Pradesh e Telangana. Em um único dia, são plantadas dezenas de milhões de mudas, sempre priorizando espécies que se adaptam bem ao clima local. Além disso, iniciativas como o Green India Mission, parte do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, visa restaurar 1 milhão de hectares de áreas degradadas. Isso é equivalente a um território duas vezes maior que o do Distrito Federal.

A desertificação que avança e a necessidade de uma muralha verde indiana

A urgência por iniciativas de reflorestamento é clara. Pesquisas apontam que a desertificação está avançando rapidamente em estados como Rajastão, Gujarat, Punjab e partes de Maharashtra. Nesses lugares, o clima semiárido e práticas agrícolas intensivas estão acelerando a destruição da vegetação. A situação é especialmente preocupante na fronteira com o Paquistão, onde o deserto de Thar tende a se expandir.

Para lidar com essa questão, a Índia intensificou seus programas de recuperação. Projetos incluem o manejo de bacias hidrográficas, reflorestamento comunitário, restauração de pastagens e o plantio de espécies resistentes, como neem, acácia e bambu nativo. O objetivo é criar uma “muralha verde”, que, embora não tão formal quanto a da China, busca estabilizar o solo, recarregar aquíferos e revitalizar a agricultura local.

O papel crucial das comunidades rurais na regeneração

Um dos aspectos mais interessantes desse programa é a participação ativa das comunidades locais. Ao invés de depender apenas do governo, muitos projetos de reflorestamento são geridos por grupos comunitários.

Esses grupos de aldeões cuidam das mudas, constroem sistemas simples de irrigação e monitoram a recuperação de áreas onde antes havia degradação. Esses programas estão ligados a iniciativas de desenvolvimento rural que pagam famílias pelo seu trabalho na restauração ecológica, unindo renda e regeneração ambiental.

O uso de zonas de conservação comunitária, como as Joint Forest Management Committees, já cobre mais de 20 milhões de hectares, com uma gestão compartilhada entre moradores e o governo. Essa abordagem descentraliza o processo e, consequentemente, aumenta as chances de sucesso a longo prazo.

Regiões áridas que começam a mudar de cor

Em distritos do Rajastão, por exemplo, projetos pioneiros estão trazendo resultados visíveis. Áreas que antes eram áridas e cobertas de sal agora exibem vegetação saudável após intervenções de melhoria do solo e plantio de espécies selecionadas.

Em Madhya Pradesh, regiões degradadas de pastagem se transformaram em corredores ecológicos, beneficiando antílopes, chacais e aves migratórias.

O programa Haritha Haram, que começou em 2015 em Telangana, se tornou um dos maiores bancos de mudas da Ásia, aumentando significativamente o número de árvores plantadas em áreas urbanas e rurais. Isso é essencial para melhorar a temperatura média em bairros que sofriam com o calor extremo.

Essas iniciativas têm refletido em um crescimento real na cobertura florestal do país. Segundo o relatório India State of Forest Report 2021, houve um aumento de cerca de 1.540 km² de área florestal, mostrando que, apesar da imensidão do território, as ações estão gerando resultados.

O componente econômico: florestas que geram renda

A abordagem da Índia vai além do aspecto ambiental, integrando também um enfoque econômico.

O plantio de espécies nativas com valor econômico — como bambu e árvores frutíferas adaptadas ao clima semiárido — está proporcionando renda para agricultores e comunidades tradicionais. Esse modelo ajuda a reduzir a pressão sobre florestas naturais ao mesmo tempo que cria novas oportunidades econômicas sustentáveis.

Projetos que recebem apoio de bancos públicos e internacionais também estão sendo implementados para restaurar bacias hidrográficas. Isso é vital para aumentar o acesso à água em regiões que enfrentam escassez crônica. Em lugares como Maharashtra, áreas reflorestadas têm contribuído para a elevação dos lençóis freáticos após períodos de seca.

Entre desafios e possibilidades: o futuro da muralha verde indiana

Apesar dos progressos notáveis, a Índia ainda tem pela frente desafios significativos. O crescimento populacional pressiona as áreas rurais, mudanças climáticas trazem ondas de calor extremas, e muitas mudas plantadas ainda têm dificuldades de sobrevivência.

Para enfrentar esses problemas, novas diretrizes estão se concentrando em um plantio mais técnico, combinando manutenção comunitária e restauração ecológica profunda, em vez de focar apenas em números altos de mudas.

Ainda assim, o caminho é promissor. A Índia acredita no reflorestamento contínuo, na recuperação dos solos e no desenvolvimento rural para combater a desertificação e criar cinturões verdes em regiões antes áridas.

A transformação é um processo ainda em andamento, mas já é possível notar mudanças significativas. Imagens de satélite mostram uma clara diferença entre o presente e as décadas passadas: onde antes havia poeira, agora surgem áreas verdes. Onde havia erosão, a vida está voltando. É uma mudança lenta, mas inegável, que demonstra a capacidade de um país de recuperar seu meio ambiente, árvore por árvore.

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