Brasil e México: desafios para se tornarem potências globais

O Brasil e o México são exemplos de países grandes, com vasto território e uma população significativa. Apesar de todo esse potencial, ainda não conseguiram se firmar como influências globais. O segredo, aqui, está mais no “como” enfrentam suas realidades do que no “quanto” possuem em termos de recursos.
Durante dois séculos, decisões tomadas na colonização, a forma como se organizaram institucionalmente e as estratégias econômicas que adotaram resultaram em um quadro de crescimento irregular e crises frequentes. Isso fez com que ambos os países ficassem em capricho dos ciclos econômicos mundiais.
Na prática, Brasil e México vivem altos e baixos. Eles costumam experimentar períodos de crescimento rápido, mas que podem facilmente se transformar em estagnações. Quando a economia global está favorável, as finanças avançam; mas, ao mudar a maré, os ganhos se dissipam. Essa instabilidade se deve a instituições que não garantem a continuidade das políticas, prejudicando planejamento e inovação a longo prazo.
Origem de colônia de exploração e seus efeitos prolongados
A origem desses países como colônias de exploração é fundamental. Tanto o Brasil quanto o México foram estruturados para extrair riquezas para as potências ibéricas, sem construir bases sólidas de autogoverno, urbanização e desenvolvimento científico. O resultado foi a formação de economias focadas em exportação de produtos primários, com um mercado interno que demorou a se integrar.
Mesmo depois da independência, a mentalidade extrativa permaneceu viva. As elites políticas e econômicas se acomodaram em cadeias de commodities, criando uma dependência de receitas que variavam com as oscilações do mercado externo. Enquanto a demanda global estava em alta, ambos avançaram, mas falharam em manter políticas que garantissem um crescimento estável em momentos de crise.
Industrialização tardia, avanços pontuais e desindustrialização
A industrialização no Brasil e no México chegou tardiamente e de forma não uniforme. Entre as décadas de 1950 e 1980, ambos os países perceberam um crescimento industrial significativo e uma aceleração na urbanização.
No entanto, a falta de uma política de Estado e de continuidade limitou a produtividade e o desenvolvimento de uma educação técnica robusta que pudesse gerar cadeias de valor mais sofisticadas. A partir dos anos 90, observou-se um processo de desindustrialização, que trouxe de volta uma dependência das commodities. No Brasil, isso resultou em maior sensibilidade aos preços das exportações e, no México, a uma dependência crescente do mercado dos Estados Unidos, afetando emprego e economia.
Dependência de ciclos externos e baixa coerência de longo prazo
Com instituições que não garantem a continuidade das estratégias além das trocas de governo, Brasil e México frequentemente reconfiguram suas direções políticas. Planos para o setor industrial, educacional e tecnológico são cancelados antes de amadurecer, o que impede que se desenvolvam competências produtivas e tecnológicas essenciais para competir em nível global.
Em tempos de alta nas commodities, o Brasil se beneficia, melhorando seu retorno financeiro. Enquanto isso, quando a economia americana se aquece, o México também acelera seus negócios. O problema é que essa dependência externa fragiliza as estruturas imediatas, dificultando o investimento em pesquisa e desenvolvimento, e em qualificações necessárias.
Potências estabelecidas, como China, Japão e Estados Unidos, mostram como a estabilidade nas metas nacionais é vital. Elas conservam investimentos em setores fundamentais, mantendo uma trajetória que transcende governos. Esse comprometimento cria um ambiente onde se pode planejar a longo prazo, essencial para o desenvolvimento.
Segurança jurídica, coordenação e capacidade de execução
Instituições confiáveis ajudam a reduzir custos e atraem investimentos. A previsibilidade se torna o que separa um país com potencial de se tornar realmente forte. Quando as regras do jogo mudam pouco, o setor privado consegue planejar melhor, e os governos podem coordenar infraestrutura e educação, levando a um ganho de produtividade a longo prazo.
No Brasil, os resultados positivos muitas vezes se perdem por falta de uma coordenação nacional sólida. No México, as cadeias exportadoras precisam lidar com desigualdades regionais e fraquezas institucionais. Ambos enfrentam a dificuldade de executar políticas de forma contínua, algo essencial para transformar planos em realidades duradouras.
Caminho de saída: foco em produtividade e políticas que sobrevivem a governos
Para sair desse ciclo, é necessário blindar políticas de longo prazo. Isso envolve estabelecer metas de aprendizagem com monitoramento constante, ampliar a formação técnica, e criar um regulamento que incentive inovação e logística que reduzam custos em ambos os países. O que se precisa é persistência, sem buscar soluções passageiras.
No Brasil, unir a competitividade do agronegócio à reindustrialização em tecnologia média-alta e a serviços que exigem conhecimento é um caminho viável. Para o México, diversificar suas dependências e melhorar a tecnologia nas cadeias já existentes pode aumentar sua autonomia. Para os dois, o progresso virá de um acúmulo contínuo e previsível, não de mudanças bruscas.
Tanto o Brasil quanto o México possuem o que é necessário em termos de território e recursos, mas ainda lutam para consolidar sua presença no cenário global. Ambos carecem de estruturas internas que garantam políticas de educação, ciência, indústria e infraestrutura, evitando que essas estratégias fiquem à mercê de disputas políticas ou choques externos.



