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Dunas da Namíbia emitem sons graves que ecoam pelo deserto

Imagine-se caminhando entre dunas de areia dourada, cercado pelo silêncio do deserto. De repente, um som grave começa a ecoar, como se um trovão distante ou um motor de avião estivesse por perto. Não é apenas a sua imaginação: você está diante do fenômeno conhecido como dunas cantoras, que se destaca em lugares raros do mundo, principalmente nas impressionantes dunas da Namíbia.

Essas dunas gigantes de Sossusvlei, que podem ultrapassar os 300 metros de altura, oferecem mais do que uma paisagem de cartão-postal. Elas proporcionam uma experiência acústica única, um espetáculo que mistura ciência, mistério e um toque de poesia. A cada passo, você pode ouvir sons naturais que se propagam por quilômetros, casi como se as dunas estivessem se comunicando.

O que faz as dunas “cantarem”?

O que gera essa música tão peculiar é a movimentação sincronizada de milhões de grãos de areia. Quando a superfície das dunas se desloca — seja por ventos fortes ou deslizamentos — as partículas colidem entre si, criando vibrações de baixa frequência. Esses sons podem ser bastante intensos, chegando a 105 decibéis, o que é equivalente ao barulho de um concerto de rock ou de um avião decolando.

E a mágica não para por aí. Cada duna possui um “tom” único, como se fossem instrumentos afinados pela mistura de tamanhos de grãos e umidade. É fascinante pensar que, numa simples caminhada, você pode estar em meio a uma verdadeira orquestra da natureza.

Um mistério que intrigou séculos de viajantes

O fenômeno das dunas cantoras não é novidade. Desde a Antiguidade, há relatos de viajantes que ouviram esses sons. Marco Polo, por exemplo, os descreveu como “vozes de espíritos que assombravam os desertos”. Beduínos do Saara acreditavam que esses sons eram mensagens divinas ou advertências de criaturas invisíveis.

Mais recentemente, exploradores europeus foram surpreendidos ao cruzarem a Namíbia nos séculos XIX e XX, relatando que ouviam “o deserto rugindo”, mas sem saber ao certo a origem do barulho. Foi só no século XX que cientistas passaram a estudar esse fenômeno de forma mais rigorosa, revelando seus aspectos físicos.

A ciência por trás da canção da areia

Pesquisadores de várias partes do mundo, especialmente físicos franceses e americanos, descobriram que a magia acontece quando os grãos de areia possuem certas características. Para que as dunas possam “cantar”, é necessário que:

  • Grãos de tamanho semelhante, entre 0,1 e 0,5 milímetros.
  • Superfície extremamente seca.
  • Condições climáticas estáveis que favoreçam o deslizamento.

Quando esses grãos se movem juntos, criam uma onda acústica coerente. É algo semelhante ao que ocorre em uma orquestra, mas em uma escala natural e planetária.

Um concerto natural raro no mundo

Embora som semelhantes tenham sido registrados em desertos na Califórnia, Mongólia e Saara, a Namíbia é considerada um dos melhores lugares para testemunhar as dunas cantoras. As áreas de Sossusvlei e Deadvlei oferecem um ambiente perfeito: dunas altíssimas, areia uniforme e clima árido. Para quem tem a sorte de ouvir esse espetáculo, a experiência é descrita como mística.

O som pode durar vários minutos, variando em intensidade até que desapareça tão misteriosamente quanto surgiu.

Do mito à tecnologia

O estudo das dunas cantoras vai além do que interessa a viajantes e geólogos. Físicos e engenheiros utilizam esse fenômeno para compreender melhor a acústica granular, que investiga como pequenas partículas geram sons coletivos. Esse conhecimento pode ser aplicado em diversas áreas, como engenharia civil e até na exploração espacial, já que Marte também tem dunas que podem produzir sons semelhantes.

O canto que ecoa no imaginário humano

Mais do que um fenômeno científico, as dunas cantoras da Namíbia nos lembram da força poética da natureza. Em um dos lugares mais áridos da Terra, onde a vida parece escassa e o silêncio é absoluto, a areia encontra maneiras de se expressar. É como se o deserto tivesse uma voz própria, guardando memórias ancestrais em cada vibração que ressoa pelo ar. Para os viajantes, essa é uma experiência inesquecível, e para a ciência, uma janela para entender a dinâmica do nosso planeta.

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