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Mineiros enfrentam extrema profundidade para extrair ouro a US$ 4.000

Já pensou em descer quatro vezes a altura do edifício mais alto do mundo rumo ao centro da Terra? Esse é o dia a dia na mina mais profunda do planeta, chamada Mponeng, que fica na famosa Bacia de Witwatersrand, na África do Sul. A 4 quilômetros de profundidade, milhares de trabalhadores enfrentam pressões tremendas e temperaturas tão altas que a natureza tornaria a vida impossível sem tecnologia avançada.

Gerida pela Harmony Gold Mining Company, Mponeng é um exemplo impressionante de engenharia. Ela é mais do que uma mina; é um verdadeiro cofre de ouro de altíssima qualidade. Recentemente, o preço do ouro ultrapassou US$ 4.000 por onça, transformando a extração nesse ambiente desafiador em uma questão econômica onde os riscos extremos compensam as reservas multimilionárias. O local também tem atraído a atenção da NASA por causa de suas descobertas biológicas inusitadas.

Descendo ao abismo: a engenharia do acesso vertical

É importante entender que a mina Mponeng não é uma caverna natural. Ela é um espaço dinâmico e artificial que precisaria de suporte contínuo para não ser esmagada pela pressão do solo. Para chegar a esses níveis profundos, os engenheiros tiveram que pensar fora da caixa. Não é possível usar um só elevador, pois o cabo não aguentaria o peso.

A solução encontrada foi um sistema de poços escalonados chamado Twin-Shaft. O primeiro estágio da descida tem o recorde do Guinness como o elevador mais longo de mina, descendo 2.283 metros. As gaiolas de transporte são estruturas de aço de três andares que atingem velocidades de 18 metros por segundo (equivalente a cerca de 64 km/h). O caminho da superfície até o local de trabalho pode levar mais de uma hora, exigindo uma logística impecável.

O calor mortal de 66°C e a tecnologia de “pasta de gelo”

Quando se fala em condições extremas a 4 km de profundidade, o calor é o grande vilão. A Temperatura da Rocha Virgem em Mponeng pode chegar até 66°C. Além disso, o ar comprimido da superfície gera ainda mais calor, criando um ambiente quase insuportável, onde a umidade impede que o corpo humano se resfrie.

Para combater essas altas temperaturas, a mina utiliza um sistema de refrigeração que funciona com “pasta de gelo”. Fabricadas na superfície, as fábricas produzem até 6.000 toneladas de gelo por dia. Esse gelo, ao derreter, consegue absorver mais calor que a água comum, baixando a temperatura do ar para níveis em torno de 30°C, o que garante uma condição viável para os trabalhadores.

A riqueza oculta e o cenário econômico de 2025

O motivo para operar a mina Mponeng está ligado à sua geologia excepcional. Ao contrário das minas a céu aberto, que têm teores mais baixos de ouro, Mponeng explora recifes como o Ventersdorp Contact Reef, onde a concentração de ouro pode ultrapassar 8 gramas por tonelada. Essa riqueza mineral é o que justifica o alto custo com ventilação e suporte.

Em 2025, a compra da mina pela Harmony Gold foi uma jogada estratégica. Com o preço do ouro em alta, minérios que antes eram considerados de baixo retorno agora são bastante lucrativos. A empresa está investindo em projetos para aprofundar ainda mais a mina, buscando reservas abaixo do nível 120 e planejando a extensão da vida útil da mina até a década de 2040.

Vida extrema: a descoberta que intrigou a NASA

Mponeng também guarda segredos científicos preciosos. Em fendas isoladas de água, cientistas descobriram uma bactéria chamada Desulforudis audaxviator. Esse micro-organismo, que vive no escuro e não precisa de luz solar, sobrevive usando o hidrogênio gerado pela radiação natural do urânio nas rochas.

Essa descoberta é importante porque prova que a vida pode existir independentemente da luz solar, oferecendo um modelo valioso para a busca de vida em ambientes subterrâneos de outros planetas, como Marte.

O perigo humano: sismicidade e o submundo ilegal

Apesar da alta tecnologia, Mponeng enfrenta o problema da sismicidade induzida. A remoção de rochas sob alta tensão provoca tremores frequentes, representando grande risco para a segurança. Para minimizar esses riscos, utiliza-se o método de “Grade Sequencial”, que preserva pilares de minério para sustentar a estrutura, embora ainda ocorram acidentes.

Além disso, a mina enfrenta o desafio dos "Zama Zamas", mineradores ilegais que invadem os poços e vivem no subsolo. Esses mineiros, conhecidos como “fantasmas” devido à palidez causada pela falta de sol, criam uma economia paralela perigosa. Até um simples pão pode custar 12 vezes mais que em mercados legais. A luta contra essa atividade ilegal é constante e envolve operações de segurança rigorosas.

Mponeng é um marco da resistência humana e da incessante busca por recursos. Com seus planos de expansão em andamento, ela continua sendo uma das fronteiras mais desafiadoras da indústria de mineração.

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