Ilha africana pede ajuda ao Brasil contra violações de direitos humanos

A ilha de Ano Bom, ou Annobón, é um pedacinho de terra com apenas 17 km², situada ao sul de São Tomé e Príncipe, no Golfo da Guiné. Com uma população pequena, a ilha é conhecida por suas praias vulcânicas, pesca artesanal e plantações para subsistência. Isso faz com que os habitantes coloquem um valor enorme na preservação da língua crioula Fá d’Ambô e em tradições católicas que já existem por lá há muito tempo, transformando o local em um verdadeiro bastião de resistência cultural no Atlântico.
Uma história de desapego
A história de Ano Bom começou com os portugueses, que descobriram a ilha entre 1473 e 1501. Depois, em 1778, a ilha foi cedida à Espanha pelo Tratado de El Pardo. Por fim, em 1968, durante a luta pela independência da Guiné Equatorial, a ilha foi incorporada ao novo país, apesar do descontentamento de seus moradores. Historicamente, essa trajetória deixou a comunidade isolada e com uma identidade cultural bastante singular.
O valor da língua e da fé
Apesar de todas as adversidades, os residentes conseguiram manter viva a Fá d’Ambô, um crioulo de origem portuguesa que resistiu ao tempo. Pesquisas apontam que essa língua é semelhante a outras faladas em São Tomé e Príncipe, reforçando laços históricos. Além da língua, a fé católica de Ano Bom preservou características dos tempos coloniais, bem diferentes das práticas africanas que surgiram posteriormente. Assim, a língua e religião tornaram-se ferramentas essenciais para a preservação da identidade cultural da comunidade.
Desafios e denúncias
Nos últimos anos, a comunidade de Ano Bom enfrentou várias denúncias que chamaram a atenção internacional para sua realidade. Em 1988, organizações não governamentais e médicos alertaram sobre planos que ameaçavam a ilha, como transformá-la em um depósito de resíduos tóxicos, o que poderia resultar em danos sérios ao meio ambiente. Em 1993, a Amnesty International registrou casos de prisões, tortura e execuções após protestos. Mais recentemente, em 2024, denúncias de internet cortada e detenções arbitrárias aumentaram a sensação de abandono e isolamento.
Mesmo com todas essas questões sendo levantadas, a comunidade internacional não tomou medidas efetivas. Para os anobonenses, essa falta de ação é um sério risco de um apagamento cultural e físico.
O chamado ao Brasil
Em 2022, sob a liderança de Orlando Cartagena Lagar, os habitantes proclamaram uma independência simbólica de Ano Bom. No entanto, sem o reconhecimento de outros países, começaram a enviar pedidos de ajuda à CPLP, à ONU e a nações de língua portuguesa — e, na maioria das vezes, ficaram sem resposta.
Nesse cenário, o Brasil se tornou o grande foco de esperança. Segundo Lagar, Brasília poderia facilitar um acordo com São Tomé e Príncipe para discutir a retirada das tropas da Guiné Equatorial, garantindo proteção à população. Além disso, a Marinha do Brasil poderia oferecer apoio imediato, como água e medicamentos. Dessa forma, o Brasil poderia se estabelecer como um elo entre dois povos irmãos.
Lagar ressalta que o Brasil tem um papel importante por conta de suas raízes históricas, culturais e linguísticas. Ele acredita que a integração com São Tomé e Príncipe só seria possível com a mediação brasileira, que ajudaria a unir nações divididas por séculos de decisões políticas externas.
Linha do tempo da luta de Ano Bom
- 1473–1501 — Descoberta portuguesa no Golfo da Guiné.
- 1778 — Tratado de El Pardo transfere a ilha para a Espanha.
- 1968 — Incorporação à Guiné Equatorial.
- 1988 — Denúncias sobre resíduos tóxicos na ilha.
- 1993 — Protestos seguidos de repressão violenta documentada.
- 2006 — Guiné Equatorial torna-se observadora na CPLP.
- 2010/2011 — Oficialização do português como idioma nacional.
- 2014 — Adesão plena do país à CPLP.
- 2022 — Proclamação simbólica da independência de Ano Bom.
- 2024 — Denúncias de apagões digitais e prisões arbitrárias.
- 2025 — Apelo direto ao Brasil como última esperança de sobrevivência.
O papel do Brasil
Os moradores de Ano Bom veem o Brasil como um aliado não apenas pela língua em comum, mas também por sua influência na CPLP e pela capacidade de mobilizar recursos. Acreditam que a intervenção do Brasil não seria apenas uma ajuda imediata, mas também uma maneira de preservar séculos de história e cultura.