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Caminhoneiros podem parar o Brasil novamente, alerta especialista

A escassez de caminhoneiros no Brasil está gerando preocupações sobre o futuro do transporte de cargas e, consequentemente, do abastecimento nacional. Esse tópico foi analisado por especialistas que traçam um cenário de possíveis consequências, como a falta de alimentos, combustíveis e medicamentos, além de uma pressão sobre os preços.

De acordo com o professor De Leon Petta, que discutiu o tema em um vídeo, a situação também reflete uma crise demográfica que está se agravando no país. O transporte rodoviário, que é responsável por cerca de 60% das mercadorias que circulam no Brasil, depende de uma força de trabalho que está envelhecendo rapidamente. Infelizmente, estamos perdendo um número significativo de motoristas ano após ano.

Envelhecimento dos caminhoneiros no Brasil

Recentes dados mostram que a idade média dos caminhoneiros no Brasil está em torno de 45 anos, e cada vez mais motoristas mais velhos estão ativos nessa profissão. Em 2013, cerca de 15% dos motoristas tinham mais de 60 anos; hoje, essa porcentagem sobe para 29%. Os jovens, por outro lado, estão quase ausentes da categoria. Em 2024, apenas 4% dos motoristas tinham menos de 30 anos, enquanto mais de 11% já se aproximavam dos 70.

O professor Petta alerta que, se a maioria dos caminhoneiros está se aposentando, a reposição desses profissionais se torna um desafio crescente. Em sua avaliação, cerca de 60% dos caminhoneiros em atividade devem se aposentar na próxima década, o que pode causar um desequilíbrio na oferta de motoristas qualificados.

Custos e barreiras de entrada na profissão

Outro fator que desencoraja novos motoristas são os custos envolvidos para entrar na profissão. A habilitação nas categorias C, D ou E varia de estado para estado e pode chegar a milhares de reais. Se a intenção é ser autônomo, o valor para adquirir um caminhão novo ou seminovo é ainda mais alto, ultrapassando centenas de milhares de reais. Isso torna a entrada nesse mercado muito complicada para quem não tem financiamento ou apoio financeiro.

Além disso, muitos jovens veem a profissão como pouco atrativa, já que envolve longos períodos longe de casa, prazos apertados e condições de trabalho desgastantes.

Condições das estradas e insegurança no transporte

As rodovias brasileiras também estão longe de serem ideais. Muitos caminhoneiros reclamam da falta de pontos de parada adequados, como banheiros limpos e locais seguros para descanso. A insegurança é outro grande problema. Em 2023, mais de 17 mil ocorrências de roubo de carga foram registradas, resultando em prejuízos que ultrapassam R$ 1,2 bilhão, especialmente em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.

Essas situações criam um ambiente adverso que desanima novos profissionais a se juntarem ao setor, especialmente ao ouvirem relatos de assaltos e sequestros-relâmpago.

Redução da mão de obra e demanda crescente

A demanda por transporte rodoviário continua alta, mesmo com a perda de motoristas. Estudos indicam que o número de condutores caiu cerca de 20% entre 2014 e 2024, diminuindo de aproximadamente 5,5 milhões para 4,4 milhões. Em estados economicamente ativos, como São Paulo, os números negativos são ainda mais acentuados.

Enquanto isso, o agronegócio e o comércio eletrônico continuam a crescer, aumentando a pressão sobre as estradas. Essa disparidade tem levado a um aumento no custo do frete e atrasos nas entregas.

Impactos logísticos e pressão econômica

Petta destaca que o transporte é um dos principais componentes do custo logístico brasileiro, que já representa uma parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB). Quando há falta de motoristas, as empresas tendem a aumentar salários e benefícios para atrair novos profissionais, o que acaba encarecendo os serviços e, consequentemente, repassando essa alta aos preços de alimentos e combustíveis.

Isso cria um efeito dominó que pode impactar toda a economia. Já houve estudos identificando perdas bilionárias devido a ineficiências na logística, e a escassez de motoristas só acrescenta mais pressão.

Falta de caminhoneiros no cenário internacional

O Brasil não enfrenta essa situação sozinho. Em um estudo recente, a International Road Transport Union (IRU) revelou que existem cerca de 3,6 milhões de vagas para motoristas de caminhão não preenchidas em 36 países, que correspondem a cerca de 70% do PIB mundial. A idade média dos caminhoneiros nesses locais também está em torno de 45 anos, refletindo uma falta de renovação na profissão.

Como EUA e Europa tentam reverter a escassez

Para combater a falta de motoristas, alguns países desenvolvidos estão implementando ações práticas. Nos Estados Unidos, empresas têm oferecido bônus de contratação, melhores planos de saúde e programas de treinamento. O governo federal até flexibilizou a idade mínima para motoristas de caminhões em rotas interestaduais.

Na União Europeia, a idade mínima para dirigir veículos pesados foi reduzida de 21 para 18 anos, acompanhada de cursos de capacitação. Além disso, estão sendo feitos investimentos em áreas de descanso com estruturas adequadas.

Vulnerabilidades brasileiras na crise de motoristas

O Brasil parece enfrentar o problema com mais desafios em comparação com os países desenvolvidos. Há uma soma de fatores, como o envelhecimento acelerado da força de trabalho, infraestrutura rodoviária inadequada e altos índices de criminalidade. Incorporar veículos autônomos também seria complicado devido a estas condições.

Riscos para o abastecimento e para o escoamento de cargas

A falta de caminhoneiros já é uma realidade para muitas empresas do setor. Petta enfatiza que essa crise não é algo que vai ocorrer daqui a anos; ela já está presente. Dificuldades na contratação e aumento de trabalho para os motoristas que permanecem ativos são notadas em vários horários.

Se medidas eficazes não forem tomadas por governantes, transportadoras e instituições de formação, o Brasil pode enfrentar atrasos na distribuição de cargas, aumento nos custos e até mesmo riscos de falta de produtos no mercado.

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