Arma secreta do Brasil utiliza satélites para monitorar a Amazônia

Muita gente acredita que o Brasil é protegido por uma misteriosa fortaleza subterrânea na Amazônia. Mas a verdade é bem diferente e muito mais interessante. Em vez de um bunker escondido, o Brasil conta com uma tecnologia avançada chamada SIVAM, o Sistema de Vigilância da Amazônia. Esse sistema combina potentes aviões-radar, sensores em solo e uma rede de satélites, possibilitando monitorar voos suspeitos e garantir a soberania sobre a vasta região.
Desmistificando a base secreta invisível
A ideia de que existe uma base secreta sob a Amazônia vem de um caldeirão de lendas, fatos distorcidos e desinformação. A lenda de Ratanabá, uma cidade perdida com tecnologia assustadora, alimenta essa história. No entanto, a realidade é muito mais simples e racional.
Para começar, é impossivel que uma estrutura enterrada possa monitorar o espaço aéreo. Isso porque a tecnologia de radar depende de uma "linha de visada". As ondas de rádio precisam de um caminho livre até o alvo, e o solo barreira totalmente esses sinais. É por isso que os radares estão sempre em torres altas, aumentando o alcance.
A ideia de um sistema “invisível aos satélites” é um equívoco. Na verdade, o SIVAM depende muito dos satélites para realizar seu trabalho. A persistência desse mito pode ser explicada pela história do Campo de Provas Brigadeiro Velloso, na Serra do Cachimbo (PA), onde os militares construíram um poço de 320 metros para testes nucleares, projeto que foi desmantelado em 1990. Apesar de ser um local secreto, não estava relacionado à vigilância aérea.
A verdadeira rede de proteção da Amazônia
Enquanto a ideia da fortaleza subterrânea não passa de ficção, o sistema de vigilância é bem real. O SIVAM não é apenas um único ponto no mapa, mas sim uma extensa e integrada rede de tecnologia. Por um lado, está a infraestrutura do SIVAM, e, por outro, o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), que utiliza essas informações para ações governamentais.
Criado na década de 1990, esse sistema surgiu da necessidade de enfrentar realidades como o narcotráfico, o garimpo ilegal e o desmatamento. Antes do SIVAM, a Amazônia contava apenas com dois radares, o que deixava buracos enormes no monitoramento do espaço aéreo.
O cérebro do sistema é o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM). Este centro, ligado ao Ministério da Defesa, transforma dados em informações úteis para as Forças Armadas, agências ambientais e a Polícia Federal.
Vigilância na Amazônia
O SIVAM é um verdadeiro "sistema de sistemas", integrando uma variety de componentes fundamentais.
Olhos no Céu: A Força Aérea Brasileira (FAB) utiliza aeronaves da Embraer para vigilância. O E-99 é um avião-radar que detecta voos em altitudes baixas, enquanto o R-99 realiza o mapeamento de desmatamentos e pistas de pouso clandestinas.
- Sensores em Terra e no Espaço: Uma vasta rede de radares, tanto fixos quanto móveis, cobre a área. E os radares meteorológicos são essenciais para garantir a segurança dos voos. O SIVAM é um grande consumidor de dados de satélites de observação da Terra, como os da série CBERS, em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Operações que protegem a natureza e os mares
O impacto do SIVAM na Amazônia é comprovado pelas suas operações. A Operação Ostium está sempre atenta às fronteiras, combatendo o narcotráfico. Já a Operação ZIDA 41, realizada na Terra Indígena Yanomami, resultou na criação de uma zona de exclusão aérea, dificultando a logística do garimpo ilegal e levando à apreensão de várias aeronaves. De 2020 a 2024, a FAB conduziu 3.382 interceptações de voos sem plano.
No que diz respeito ao monitoramento ambiental, o CENSIPAM utiliza imagens de radar do sistema SipamSAR para detectar desmatamentos, mesmo sob as nuvens. Essa tecnologia gera relatórios que não apenas apontam onde ocorrem crimes ambientais, mas também ajudam na identificação dos responsáveis.
E mais, as operações se estenderam até a chamada “Amazônia Azul”, a zona marítima brasileira. Em colaboração com a Marinha, o CENSIPAM agora aplica sua expertise para combater a pesca ilegal e monitorar derramamentos de óleo no mar.