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Navios cargueiros utilizam defesas não letais contra piratas

Imagine navegar por um dos mares mais desafiadores do mundo em gigantescos navios cargueiros. Esses barcos transportam milhares de contêineres, enquanto os tripulantes têm que ficar atentos a pequenos barcos rápidos que, armados com fuzis e até lançadores de foguetes, podem surgir a qualquer momento. Mas, adivinha? A resposta inicial não envolve armas pesadas. Em vez disso, os navios utilizam sistemas de água sob alta pressão, ondas sonoras direcionadas e luzes ofuscantes. Pode parecer um pouco frágil frente a um AK-47, mas é assim que a defesa moderna opera na maioria dos cargueiros.

Nos últimos anos, tem havido uma pressão crescente nas rotas marítimas comuns. Piratas somalis, grupos armados no Golfo da Guiné e rebeldes Houthis no Mar Vermelho têm atacado frequentemente embarcações. Para lidar com isso, as tripulações adotaram uma combinação de tecnologia não letal com protocolos de segurança rigorosos. Isso inclui camadas de dissuasão, barreiras físicas e planos de contingência, que podem envolver mudar de rota ou trancar a tripulação em um local seguro até a chegada de forças navais.

O novo campo de batalha em torno dos navios cargueiros

Atualmente, a proteção dos navios cargueros é dividida em duas frentes complementares. A primeira envolve a dissuasão, que pretende fazer com que os piratas pensem duas vezes antes de se aproximar. A segunda é a antiabordagem, que visa tornar difícil ou até perigosa a tentativa de subir a bordo.

Na prática, isso pode parecer simples, mas a eficácia é comprovada. Alguns navios usam manequins para parecer que têm mais vigilantes do que realmente possuem. Outros utilizam lasers que dificultam a visão dos piratas no momento crucial. Além disso, o comandante pode sempre aumentar a velocidade do navio, tornando arriscado para os invasores se aproximarem.

A lógica é bem clara: quanto mais difícil e arriscado for atacar um navio, maior a chance de os piratas optarem por um alvo mais vulnerável.

LRAD: o alto-falante que vira arma de som direcionado

Um dos recursos mais impressionantes é o LRAD, um sistema de som direcional potente. Inicialmente, ele serve como um meio de comunicação. A tripulação pode alertar embarcações suspeitas, pedindo que mudem de curso.

Se a comunicação não funcionar, o LRAD é acionado para produzir um som tão intenso que se assemelha ao de um motor a jato. Isso causa tanto desconforto que ficar na área se torna quase insuportável. Mesmo quem usa protetores auriculares ainda sente os efeitos, já que as ondas sonoras podem atingir o ouvido interno.

Na prática, esse tipo de defesa faz com que muitos grupos armados desistam de atacar os navios cargueiros. No entanto, se persistirem, há uma camada adicional de proteção que entra em ação.

Fios de rastreamento, arame farpado e barreiras físicas

A próxima linha de defesa envolve sistemas que utilizam fios de rastreamento, que se projetam na água e se enrolam na hélice de barcos que se aproximam demais, dificultando seus movimentos. Para piorar a situação dos invasores, canhões de água de alta pressão podem ser usados. Esses equipamentos são muito mais poderosos do que uma mangueira comum.

Além de desestabilizar quem tenta subir, eles podem até afundar embarcações pequenas que se aproximam. Alguns canhões são operados remotamente, aumentando a segurança da tripulação.

Em casos extremos, barreiras físicas como arame farpado são instaladas nas bordas do convés, dificultando ainda mais tentativas de invasão. Algumas embarcações têm painéis que criam um “degrau” negativo, tornando a escalada uma tarefa impossível.

Quando a ameaça vem do céu: o caso Galaxy Leader

Essas defesas costumam ser eficazes contra pequenos barcos, mas falham quando a ameaça vem do ar, como aconteceu com o cargueiro Galaxy Leader, que foi atacado por rebeldes Houthis descendo de um helicóptero.

A tripulação foi pega de surpresa e feita refém. Como o navio estava vazio e o objetivo do ataque era político, as táticas comuns de pirataria não se aplicaram. O navio foi eventualmente exibido como um troféu, quase em um tom de atração turística.

Isso mostra que os protocolos tradicionais, que normalmente envolvem desligar o navio e se refugiar em um espaço seguro, nem sempre são adequados para todos os cenários.

Piratas somalis x Golfo da Guiné: motivação dita o risco

As táticas de ataque dos navios cargueiros variam muito dependendo da região. Na Somália, sequestros por resgate são comuns, como o caso do cargueiro ucraniano Faina, que teve sua tripulação mantida refém por meses até o pagamento de um resgate. Já no Golfo da Guiné, a abordagem foca mais na carga. Os piratas interceptam os navios e mantêm a tripulação em cativeiro enquanto transferem produtos para outra embarcação.

Essas diferenças influenciam diretamente as defesas adotadas e o nível de risco aceito pelas empresas. Isso também afeta os preços de seguros e a escolha de contratar equipes de segurança.

Por que navios cargueiros não andam armados

À primeira vista, pode parecer lógico armar os navios cargueiros com armas. No entanto, a situação é mais complexa. Em alto-mar, os navios seguem as regras do país cuja bandeira carregam. Muitos países têm legislações rigorosas contra armas de fogo em embarcações comerciais. Levar armas a um porto que proíbe isso pode resultar em multas e complicações logísticas.

Além disso, a principal função da tripulação é operar os navios, e não agir como forças de combate. Treinar marinheiros para usar armas e lidar com situações de combate não é algo que muitas empresas aceitam.

Por isso, o mais comum em áreas de risco é contratar empresas de segurança privada. Essas equipes são compostas por profissionais especializados e embarcam apenas nos trechos mais críticos.

Rotas desviadas, seguros mais caros e a volta das marinhas

Quando a pirataria aumenta, os navios cargueiros não apenas mudam a segurança a bordo, mas também ajustam suas rotas. Após um aumento nos ataques no Mar Vermelho, muitos capitães começaram a desviar pela costa da África, encarecendo a logística global. Aqueles que mantêm as rotas tradicionais enfrentam maiores prêmios de seguro e precisam reforçar medidas de segurança.

Quando as defesas não são suficientes, a resposta normalmente inclui o acionamento de marinhas nacionais e forças de coalizão. Durante o auge da pirataria na Somália, por exemplo, os EUA e aliados intensificaram as operações, resultando em confrontos diretos.

Recentemente, o aumento dos ataques por parte de Houthis levou a ações militares contra alvos no Iémen, reforçando a necessidade de proteger as rotas comerciais.

Um equilíbrio tenso entre comércio, segurança e guerra

A luta dos navios cargueiros contra piratas e grupos armados ilustra um cenário onde diferentes tipos de defesa, desde água sob pressão e lasers até guardas costeiras e decisões políticas, precisam coexistir. A escolha de defesas não letais visa proteger as tripulações e evitar conflitos sem necessidade, mas as ameaças evoluem, incluindo ataques aéreos com motivações políticas.

A cada travessia em áreas de risco, a pergunta que fica é: até onde confiar nas defesas antes de optar pela proteção armada?

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