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Túnel de 1.200 metros escavado à mão por moradores em montanha

Nas montanhas Taihang, na província de Henan, na China, uma história incrível de coragem e engenhosidade se desenrola. O Túnel de Guoliang, com seus 1.200 metros, não foi criado por grandes construtoras ou projetos estatais. Na verdade, ele foi talhado à mão, centímetro por centímetro, por treze moradores que se recusaram a aceitar o isolamento de sua aldeia, que estava condenada à pobreza.

Esse túnel substituiu uma antiga trilha perigosa, tornando-se a única rota de acesso para uma aldeia a 1.700 metros de altitude. O que antes era um lugar acessível apenas a quem tinha muita agilidade, agora se tornou uma atração que recebe milhões de visitantes. Durante sua construção, que começou em 1972 e terminou em 1977, esses moradores enfrentaram um desafio monumental, utilizando apenas suas mãos e algumas ferramentas simples. A obra não precisava de eletricidade ou máquinas pesadas, e a coragem deles quebrou barreiras na época.

A tirania da geografia e o limite de peso dos porcos

Antes do túnel, a vida na aldeia de Guoliang era marcada por limitações severas impostas pela geografia. A única conexão com o mundo exterior era a famosa "Escada do Céu", com seus 720 degraus irregulares esculpidos na rocha durante a Dinastia Song. Esse caminho não só dificultava o transporte, mas afetava a economia local de maneira drástica. A logística para levar mercadorias, como sal e carvão, era tão precária que os preços ficavam inflacionados.

Um exemplo concreto é a criação de porcos, que não podiam ultrapassar 50 ou 60 quilos. Se um animal excedesse essa medida, era praticamente impossível para um homem carregá-lo pela escada até o mercado. Isso fazia com que os moradores tivesse que vender seus ativos antes do tempo, perpetuando um ciclo de pobreza. E quando alguém ficava doente, a evacuação médica se tornava uma verdadeira tortura. Era preciso um esforço coletor de oito homens para carregar uma maca em descidas que duravam quatro horas.

Martelos contra a montanha: a venda de gado pela sobrevivência

Sem o apoio do governo para construir uma estrada, a liderança da aldeia tomou uma decisão radical em 1972. Inspirados por uma fábula, eles decidiram financiar a construção do túnel. Para isso, venderam o que tinham de mais valioso: cabras, ovelhas e ervas medicinais.

Uma equipe de treze agricultores, sem formação em engenharia, se dedicou à tarefa titânica. Armedos com apenas determinação e ferramentas rudimentares, enfrentaram a dura rocha quartzítica. Impressionantemente, foram consumidos 4.000 martelos e 12 toneladas de aço durante o projeto, e a taxa de avanço era de apenas um metro a cada três dias em algumas partes mais densas.

As “janelas” do abismo: funcionalidade acima da estética

Hoje, o túnel é famoso por suas “janelas” que se abrem para o precipício. Essas aberturas, que se tornaram um cartão-postal, tinham uma função prática. Elas permitiam descartar os entulhos e garantiam a iluminação e a ventilação necessárias durante a escavação.

As medidas finais do túnel, 5 metros de altura e 4 metros de largura, foram pensadas para permitir a passagem de tratores. O caminho se seguiu a um trajeto natural através das camadas geológicas, criando uma experiência única para motoristas.

De vila isolada a “Aldeia do Cinema Chinês”

Quando o túnel foi concluído em 1º de maio de 1977, a vida em Guoliang mudou completamente. De uma necessidade de sobrevivência, o túnel se transformou em um ponto atrativo. Com o tempo, a aldeia ganhou o título de “Aldeia do Cinema e TV Chinesa”, servindo de cenário para mais de 40 produções audiovisuais.

Hoje, Guoliang recebe cerca de 1,4 milhões de turistas por ano. Protestando por essa nova realidade, muitos moradores, como o Sr. Song, um dos construtores do túnel, trocaram a agricultura pela gestão de hotéis e restaurantes, aproveitando as oportunidades que surgiram.

Entretanto, a fama trouxe desafios. O túnel é considerado uma das estradas mais perigosas do mundo e exige cuidados especiais. Muitos trechos não têm guardrails, e os motoristas precisam estar sempre alertas. Para gerenciar os riscos, o acesso de veículos particulares é restrito, priorizando ônibus com motoristas locais experientes.

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