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Túnel ferroviário dos Alpes melhora viagem na Europa com 57 km

Imagine uma estrutura capaz de transformar a geografia de um continente inteiro, atravessando rochas a profundidades onde a temperatura é quase insuportável. O Túnel de Base de São Gotardo, na Suíça, é uma verdadeira maravilha da engenharia ferroviária do século XXI. Com impressionantes 57,09 quilômetros de extensão, ele é o túnel ferroviário mais longo do mundo e o mais profundo já construído, com uma cobertura rochosa de até 2.450 metros.

Construir esse túnel não foi só uma questão de quebrar recordes; foi uma necessidade estratégica que demandou cerca de 9 bilhões de euros (aproximadamente 12 bilhões de dólares) e quase duas décadas para ficar pronto. O projeto foi idealizado para ter uma vida útil de 100 anos e tinha como objetivo aliviar o trânsito de caminhões nas estradas alpinas. Com isso, a obra conseguiu reduzir em cerca de uma hora o tempo de viagem entre Zurique e Milão.

O desafio de construir o túnel ferroviário mais longo do mundo

A construção do GBT exigiu soluções técnicas inovadoras para encarar um ambiente hostil. Ao contrário das antigas passagens alpinas, que forçavam os trens a subirem por rampas íngremes, o projeto do túnel introduziu o conceito de “rota plana”. Esse design permite que trens de carga pesados passem sem precisar de locomotivas auxiliares e que composições de passageiros atinjam velocidades de até 200 km/h.

Para atingi-lo, os engenheiros enfrentaram temperaturas internas de até 45°C, bem acima do limite seguro de 28°C. Relatórios técnicos indicam que foram instalados sistemas de ventilação massivos e compartimentos refrigerados para proteger os trabalhadores durante a escavação. Além disso, eles também lidaram com o risco geológico da “bolsa de Piora”, uma área de rocha instável onde sondagens preventivas evitaram desastres.

Impacto estratégico e a revolução logística na Europa

O propósito do túnel vai muito além de encurtar viagens turísticas; ele é fundamental para a política suíça de transferência modal. Dados governamentais mostram que o túnel é crucial para o Corredor Reno-Alpes, conectando o porto de Roterdã, na Holanda, a Gênova, na Itália. O sucesso dessa logística é claro: enquanto a média da União Europeia para transporte ferroviário de cargas está abaixo de 20%, a Suíça alcança uma cota superior a 70%, tirando milhares de caminhões das estradas.

A robustez da construção é ainda mais impressionante: foram utilizadas cerca de 4 milhões de toneladas de concreto, um volume 40 vezes maior do que o utilizado para construir o arranha-céu Burj Khalifa. Para garantir a durabilidade de 100 anos, fornecedores desenvolveram aditivos e sistemas de impermeabilização que drenam a água da montanha sob os trilhos, mantendo o túnel seco e funcional mesmo sob a pressão intensa dos Alpes.

A fragilidade de um gigante: o incidente de 2023

Apesar de sua grandiosidade, a operação do túnel revelou que concentrar o fluxo logístico em um único ponto traz riscos significativos. Em agosto de 2023, um descarrilamento de trem de carga causou danos severos ao tubo oeste, destruindo cerca de 7 quilômetros de trilhos. Esse incidente trouxe à tona a vulnerabilidade do sistema, resultando em um prejuízo estimado entre 100 e 130 milhões de francos suíços.

A recuperação foi demorada e bastante complicada, devido ao calor e umidade dentro do túnel, estendendo a previsão de reabertura total para setembro de 2024, mais de um ano após o acidente. Isso inicia um debate sobre a resiliência de grandes estruturas: a busca por eficiência máxima pode criar um "gargalo" onde uma falha só pode paralisar uma das rotas comerciais mais importantes da Europa por meses a fio.

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