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Tio pode ter que pagar pensão? Entenda a decisão do Código Civil

Você sabia que a 2ª Vara da Família e Sucessões de São Carlos, em São Paulo, decidiu que um tio deve pagar pensão a seu sobrinho diagnosticado com Síndrome de Asperger? O caso chama atenção por abrir um debate sobre a responsabilidade financeira de familiares mais distantes.

Tudo começou quando o pai do menino não estava cumprindo suas obrigações financeiras e a avó paterna não conseguia ajudar. A sentença levantou a questão se parentes de terceiro grau, como tios, podem ser responsabilizados por pensão alimentícia.

Valores Definidos pelo Juiz em São Carlos

O juiz Caio César Melluso estabeleceu duas formas de contribuição para o tio. Se ele estivesse empregado ou recebendo algum benefício, deveria pagar 10% dos seus rendimentos líquidos. Já na situação de desemprego ou atuação em trabalho informal, a obrigação cairia para 40% do salário mínimo.

O magistrado se baseou na ideia de solidariedade familiar, que está prevista na Constituição e no Código Civil, que permite que pedidos de alimentos sejam feitos entre parentes.

Durante o processo, foi verificado que o tio tinha um padrão de vida estável, com gastos compatíveis e até pagando mesada a um enteado. Isso reforçou a ideia de que ele tinha capacidade para ajudar financeiramente.

O Que Diz o Código Civil Sobre Alimentos

O artigo 1.694 do Código Civil é claro: parentes podem solicitar alimentos entre si, sem especificar grau de parentesco. O artigo 1.696 é mais direto ao afirmar que essa responsabilidade recai sobre pais e filhos, abrangendo também ascendente.

No entanto, o artigo 1.697 diz que, na ausência de ascendentes e descendentes, os irmãos podem ser chamados a ajudar. A lei não menciona especificamente tios e sobrinhos, o que gera diversas interpretações.

A jurista Maria Berenice Dias argumenta que essa falta de restrição na lei permite que parentes colaterais sejam incluídos, desde que em situações especiais.

Critérios Utilizados para Responsabilizar o Tio

No caso de São Carlos, o juiz analisou três fatores principais. Primeiro, a necessidade do sobrinho foi provada por documentos médicos e comprovantes das despesas contínuas de tratamento.

Em segundo lugar, a impossibilidade de contribuição do pai e da avó foi demonstrada por registros de inadimplência. Por fim, a capacidade financeira do tio se evidenciou através de suas movimentações e padrão de vida.

Esses elementos possibilitaram que a responsabilidade pelo sustento do sobrinho fosse estendida ao tio, de forma subsidiária.

Jurisprudência Diversificada

Apesar dessa decisão de São Carlos, a situação não é universal. Nos tribunais superiores, não existe uma posição uniforme sobre a obrigação de tios em relação a sobrinhos. Em 2016, a 3ª Turma do STJ decidiu que sobrinhos não têm a obrigação de sustentar tias, pois essa relação não estava prevista no Código Civil.

Decisões em tribunais estaduais também têm negado pedidos de pensão contra tios, reforçando que a aplicação do artigo 1.694 deve respeitar uma ordem de prioridade.

Requisitos para Fazer Pedidos de Alimentos Contra Tios

Para que uma ação desse tipo seja analisada, a jurisprudência estabelece alguns requisitos:

  • Necessidade do sobrinho: comprovada por laudos médicos e recibos de despesas.
  • Impossibilidade dos obrigados prioritários: deve ser demonstrada através de comprovantes de baixa renda ou inadimplência.
  • Capacidade financeira do tio: exige apresentação de documentos como contracheques e extratos bancários.
  • Parentesco: deve ser provado por certidões ou documentos de identificação.

Sem esses documentos, a ação pode ser rejeitada ou o valor da pensão, reduzido.

Como Funciona o Processo Judicial de Alimentos

O processo segue um rito específico, conforme os arts. 1.694 a 1.710 do Código Civil e a Lei 5.478/1968. Normalmente, tudo começa com uma audiência de conciliação. Caso as partes não cheguem a um acordo, o juiz pode determinar alimentos provisórios até a decisão final.

Na fase de instrução, são coletadas provas sobre a renda e despesas das partes envolvidas. Se a sentença for favorável, a pensão pode ser descontada diretamente em folha de pagamento ou depositada em uma conta bancária indicada.

Em caso de atraso no pagamento, o devedor pode enfrentar processo judicial, com possibilidade de prisão civil em situações mais graves.

Perguntas Frequentes na Justiça

Quando o tio já tem filhos, é possível que o valor da pensão seja reduzido, já que a lei exige que esse pagamento não comprometa o sustento da família do debedor. Se o sobrinho completar 18 anos, a pensão só continuará se houver incapacidade comprovada ou necessidade para custear estudos.

O atraso no pagamento implica em juros e multas, conforme apontado no Código de Processo Civil.

Debates Abertos no Direito de Família

A decisão de São Carlos tem sido citada em vários debates jurídicos, pois incluiu um tio entre os responsáveis pela obrigação alimentar. Contudo, decisões mais recentes do STJ e de outros tribunais reafirmam que a responsabilidade alimentícia se restringe a pais, ascendentes e irmãos.

As discussões sobre a extensão dessa obrigação ainda estão em andamento e dependem da análise das necessidades, da incapacidade dos responsáveis prioritários e da capacidade financeira dos parentes mais distantes.

Em situações em que essas condições se entrelaçam, pode-se considerar a possibilidade de uma pensão vinda de tios ou tias.

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