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Açude no Brasil tem capacidade de 6,7 bilhões de m³ e cobre cidades

O Açude Castanhão, oficialmente conhecido como Açude Público Padre Cícero, é um marco importante na relação dos sertanejos com a água. Localizado sobre o leito do rio Jaguaribe, no Ceará, ele simboliza uma jornada que começou no século XIX, quando as secas no Nordeste já eram um grande desafio para o país.

As cenas de secas severas retratavam um cenário difícil: chão rachado, gado magro e estradas empoeiradas. Era uma realidade dura para muitos que buscavam soluções sustentáveis para sobreviver em um ambiente hostil.

A política de construção de açudes começou a tomar forma quando Dom Pedro II optou por enfrentar essa situação, lançando as bases do Açude Cedro, em Quixadá. Com o tempo, a necessidade de criar grandes reservatórios se intensificou, levando à ideia de uma barragem robusta no vale do Jaguaribe, capaz de regular as cheias e fornecer água para diversas atividades.

A Escolha do Boqueirão do Cunha

O primeiro passo para a construção do Castanhão ocorreu em 1910, quando estudos da Inspetoria de Obras Contra as Secas apontaram o local ideal para a barragem: o Boqueirão do Cunha. O engenheiro Stanford Roderic Crandall identificou características geológicas que tornavam a região perfeita para receber a estrutura. Ele até passou um tempo em uma caverna local, chamada Caverna do Doutor, que funcionava como seu lar e escritório.

Curiosamente, durante as escavações, Crandall encontrou uma pedra com uma frase intrigante: “Região São Salvador caverna do mistério, obra do fim dos tempos 1893”. O achado se tornou uma curiosidade histórica, diretamente ligado ao futuro do açude.

O Protagonismo da Família Cunha

A família Cunha teve um papel fundamental na idealização do projeto do açude. José Holanda Cunha, uma pessoa influente na região, era dono das terras onde a barragem seria construída. O açude recebeu o nome de Castanhão em homenagem a essa propriedade, e a escolha do local se consolidou com os estudos técnicos que apontaram a região como a mais apropriada.

O Início da Obra e o Deslocamento de Jaguaribara

A construção do açude teve início em 1995, durante o governo de Tasso Jereissati, em uma cooperação entre o DNOCS e a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. A obra foi finalizada em 23 de dezembro de 2002, sob a gestão de Beni Veras. Os projetos básicos haviam sido elaborados ainda nos anos 1980, com base em estudos anteriores.

Um dos desdobramentos da obra foi o alagamento da antiga sede do município de Jaguaribara, o que resultou na criação de Nova Jaguaribara, onde réplicas da igreja matriz e da igreja do Poço Comprido preservam parte da história e memória da cidade.

A Engenharia que Moveu Montanhas

De maio de 1996 a agosto de 1997, as equipes enfrentaram desafios nas escavações para a implantação do vertedouro. Depois dessa fase, a concretagem seguiu até outubro de 1999, liderada pela empresa Andrade Gutierrez sob a supervisão do DNOCS.

O dimensionamento do Castanhão é impressionante: ele armazena 6,7 bilhões de metros cúbicos de água, sendo o maior açude de múltiplos usos da América Latina. Sozinho, ele representa 37% da capacidade de armazenamento de todos os reservatórios do Ceará, superando seu antecessor, o Açude Orós.

Usos Múltiplos e Impacto Regional

O Castanhão não é apenas um reservatório; ele abastece o vale do Jaguaribe e sustenta atividades como agricultura irrigada, pesca e lazer náutico. Suas águas também são essenciais para a Região Metropolitana de Fortaleza e para o Complexo Portuário do Pecém, além de apoiar um polo industrial, elevando sua importância para o estado.

Apesar de sua grandeza, o Castanhão não opera como um reservatório hidroelétrico. Sua principal função é regular as secas e cheias, assegurando a segurança hídrica do Ceará.

A Importância de Zita Timbó

Uma figura marcante na história do Castanhão é a engenheira Maria Zita Timbó Araújo. Formada pela Universidade Federal do Ceará, ela fez parte do DNOCS desde 1980 e, em 1995, tornou-se responsável pelas obras da barragem. Liderar uma equipe de 1.200 pessoas em um projeto dessa magnitude foi um marco, especialmente para uma mulher nos anos 90.

Além de sua carreira, Zita também era mãe, mostrando que era possível equilibrar as responsabilidades profissionais e familiares em um ambiente dominado por homens.

O Castanhão como Marco do Sertão

A seca sempre foi um companheiro constante na vida do sertanejo. Quando as chuvas não vinham, o esforço pela sobrevivência era ainda mais intenso. A expressão “o sertão vai virar mar” ganha um novo significado com a construção do Castanhão, que para muitos representa um “mar” que trouxe esperança e vida.

Esse açude é uma obra emblemática da engenharia moderna, resultado de décadas de esforço e planejamento que agora integra a vida de milhares de cearenses.

Um Patrimônio que Atravessa Gerações

Construído ao longo de diferentes regimes políticos, o Castanhão mobilizou saberes nacionais e internacionais e envolveu comunidades inteiras. A submersão de Jaguaribara e a criação de Nova Jaguaribara são parte dessa história, que transcende a engenharia e reflete o esforço coletivo.

Os detalhes como a misteriosa caverna de Crandall e as várias etapas de construção e deslocamento só enriquecem ainda mais a narrativa de um projeto de grande impacto social e cultural.

A Grande Obra que Redefiniu o Abastecimento no Ceará

Com sua estrutura monumental, o Castanhão é essencial para a infraestrutura hídrica do Ceará. Ele não só busca mitigar as consequências da estiagem, mas também viabiliza atividades econômicas e assegura o abastecimento humano. A construção dessa barragem é um elo da continuidade de uma política que começou no Império, foi adaptada no século XX e se concretizou no final do século passado.

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