O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta segunda-feira (2) uma medida inusitada: o adiantamento das celebrações natalinas no país para o dia 1º de outubro.
A decisão foi revelada durante um programa de auditório que o líder venezuelano apresenta semanalmente. Em sua fala, Maduro justificou o adiantamento como um gesto de “homenagem e agradecimento” ao povo venezuelano, afirmando que o Natal trará “paz, felicidade e segurança” ao país.
A medida ocorre em um momento de intensa tensão política na Venezuela. Após as eleições presidenciais realizadas em 28 de julho, a reeleição de Maduro foi amplamente questionada tanto pela oposição interna quanto pela comunidade internacional.
Organizações e líderes estrangeiros apontam irregularidades no processo eleitoral, o que aumenta a desconfiança sobre a legitimidade do novo mandato de Maduro.
Maduro e a Tradição de Antecipar o Natal
Não é a primeira vez que Nicolás Maduro recorre à antecipação do Natal como estratégia política. Em 2020, em meio à pandemia de COVID-19, o presidente venezuelano já havia decretado a antecipação das comemorações natalinas para o dia 15 de outubro.
Naquela ocasião, a medida foi acompanhada pela liberação de recursos para a compra de brinquedos, numa tentativa de aliviar as dificuldades enfrentadas pela população durante a crise sanitária e econômica.
Ainda em 2013, meses após a morte de Hugo Chávez e em meio à controvérsia sobre sua própria eleição, Maduro também decretou que o Natal fosse celebrado a partir de 1º de novembro.
Naquela época, ele alegou que o adiantamento tinha como objetivo “derrotar a amargura” e promover “felicidade e paz para todo o mundo”. A antecipação das festividades, portanto, parece ser uma estratégia recorrente do governo chavista para tentar suavizar períodos de crise e distração da população.
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Repercussão internacional e o caso de Edmundo González
O adiantamento do Natal ocorre em um cenário de crescente pressão internacional sobre o governo venezuelano.
Desde as eleições de julho, a comunidade internacional tem expressado preocupações sobre a transparência e a legitimidade do processo eleitoral no país. Líderes de diversos países, bem como organizações internacionais, pedem esclarecimentos sobre as acusações de fraude eleitoral e a perseguição a opositores do regime.
A situação política na Venezuela se agravou ainda mais nesta segunda-feira (2), quando a Justiça venezuelana acatou um pedido do Ministério Público, fortemente alinhado ao chavismo, para a emissão de um mandado de prisão contra o candidato opositor Edmundo González.
González, que reivindica a vitória nas eleições de julho, é acusado de uma série de crimes, incluindo usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais, sabotagem de sistemas e associação criminosa.
A líder oposicionista María Corina Machado, que havia criticado o pedido do Ministério Público, voltou a se manifestar após a emissão do mandado de prisão.
Em uma declaração contundente, Machado afirmou que “Maduro perdeu completamente o contato com a realidade” e que “o mandado de prisão emitido pelo regime para ameaçar o presidente eleito Edmundo González ultrapassa uma nova linha”. Segundo ela, essa ação do governo só fortalece a determinação da oposição e a união dos venezuelanos em sua busca por liberdade.
Impactos da medida na sociedade venezuelana
A antecipação do Natal para o início de outubro, apesar de ser uma medida que visa gerar um clima de festividade e união, ocorre em um contexto de grande instabilidade política e social na Venezuela.
O país enfrenta uma das piores crises econômicas de sua história, com hiperinflação, escassez de alimentos e medicamentos, além de um êxodo massivo de sua população para países vizinhos.
Para muitos, o decreto de Maduro é visto como uma tentativa de desviar a atenção dos problemas reais que assolam o país. O adiantamento das celebrações natalinas, que deveriam simbolizar um período de paz e esperança, pode ser interpretado como uma manobra política para apaziguar a insatisfação popular e abafar as críticas internacionais.
Enquanto isso, a oposição continua a denunciar as irregularidades nas eleições e a repressão a seus líderes. O caso de Edmundo González é apenas o exemplo mais recente de como o governo Maduro tem utilizado o sistema judiciário para silenciar seus adversários. A perseguição a González, que se recusa a aceitar o resultado das eleições, evidencia o estado de fragilidade democrática na Venezuela.