Em um cenário onde a obtenção de um simples empréstimo pode ser uma jornada desafiadora, especialmente no Brasil, a população negra enfrenta obstáculos ainda mais significativos. No entanto, uma fintech, implementada há pouco mais de seis anos, surge como um agente de transformação, prometendo reescrever essa realidade desigual no país. Siga a leitura para explorar em detalhes essa inovadora iniciativa.
Seu crédito vai ser liberado
Conseguir crédito hoje em dia pode ser fácil para alguns e uma verdadeira missão para muitos outros, principalmente em terras brasileiras.
Para a população negra, o desafio costuma ser maior, e muitos empresários afrodescendentes veem em suas rotinas profissionais diversas negativas na obtenção de empréstimos e até em modalidades de investimento.
No entanto, uma fintech criada há pouco mais de seis anos chegou para mudar esta desigual realidade no Brasil. Acompanhe a leitura abaixo e conheça mais detalhes sobre a novidade.
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Pioneirismo afroempreendedor no Brasil
Criada em 2017 por Nina Silva e Alan Soares, a Movimento Black Money (MBM) surge como um centro de inovação, inclusão e autonomia para a comunidade negra brasileira.
Atualmente, seu marketplace é formado aproximadamente por 2,5 mil empreendedores, com outros 120 em fase de formação para concorrer à aceleração de R$ 10 mil pela Brasil Foundation.
Lana Ramos, de 28 anos e gerente de projetos da MBM, destaca a importância do Black Money para os 56% de pessoas negras no país, salientando que, se o “black money” fosse mais levado a sério, a comunidade não estaria à margem da sociedade.
Lana revela as diversas frentes de atuação da MBM, desde o treinamento de lideranças em diversidade racial até a Afreektech, voltada à educação. Além disso, há um canal exclusivo de vagas para profissionais negros, um marketplace de negócios da comunidade e um projeto de transferência de renda para mães solteiras, estimado em R$ 500 mil.
Um projeto adicional de destaque é o D’ Black Bank, uma fintech que busca fomentar o afroempreendedorismo como forma de manter os recursos circulando dentro da própria comunidade.
Lana compartilha que, embora o D’ Black Bank ainda não esteja em operação como banco digital, a maquininha de cartão de crédito chegou a ser utilizada em 24 Estados, incluindo Minas Gerais.
Durante a pandemia, devido ao fechamento de muitos negócios, o serviço da máquina precisou ser temporariamente suspenso. Lana explica que, devido à operação pequena, não foi possível competir em termos de taxas de mercado, tornando-se oneroso. No entanto, há planos para retomar as operações.
D´Black Bank oferece serviços negados a empresários negros
A visão do D’ Black Bank inclui a oferta de crédito frequentemente negado a afroempreendedores em bancos convencionais, cobrindo desde cartões com limites mais altos até empréstimos com juros acessíveis.
Sobre o cronograma, Lana comenta que o processo está em fase de amadurecimento, e não é possível afirmar se será lançado no primeiro ou segundo semestre de 2024.
Ramos destaca que, além da criação de um sistema financeiro próprio, o movimento busca contornar a rejeição aos afroempreendedores, concentrando-se no aprendizado.
Ela enfatiza a situação desafiadora do afroempreendedor, muitas vezes desprovido de estrutura, planejamento e estudo de mercado. A abordagem da MBM visa tratar essas lacunas e impulsionar o empreendedorismo afro.
Os desafios dos empreendedores negros
Maria Nilda Clementino, consultora de negócios do Sebrae, reforça as inúmeras dificuldades enfrentadas pela comunidade negra ao empreender, incluindo a falta de acesso a recursos financeiros, capacitação, rede de contatos, discriminação racial e a ausência de representatividade em setores específicos.
Clementino destaca que uma pesquisa recente do Data Sebrae identificou três desafios principais para os afroempreendedores: desconhecimento sobre a necessidade de planejamento, gestão do negócio e desconhecimento sobre locais e órgãos de apoio acessíveis.
A consultora enfatiza que, trabalhando em uma instituição que apoia o empreendedorismo há mais de dez anos, observa poucos empreendedores negros buscando apoio.
Ela ressalta a importância de buscar órgãos de apoio para garantir acesso à inovação e capacitações subsidiadas, elementos cruciais para manter a competitividade no mercado de trabalho.
Breve circulação financeira do dólar na comunidade negra
Paralelamente aos desafios enfrentados pelos afroempreendedores, Lana Ramos compara a situação com outras comunidades que fortalecem seus ecossistemas, como os judeus e chineses.
Em seu livro “Our Black Year”, a economista e ativista americana Maggie Anderson revela que, nas comunidades asiáticas, um dólar circula entre os bancos, varejistas e profissionais de negócios por até 28 dias antes de ser gasto externamente.
Entre os judeus, esse período é de 19 dias. Em áreas predominantemente brancas, são 17 dias. Os hispânicos mantêm o dólar por 7 dias. No entanto, na comunidade negra, o dólar vive apenas 6 horas.
Lana contextualiza o Movimento Black Money dentro do pan-africanismo, uma ideologia que remonta a Marcos Garvey, líder do século XIX, que já defendia a independência do ser negro.
*Com informações do O Tempo.
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