O aumento do número de brasileiros endividados é uma realidade preocupante. Muitos enfrentam contas de luz atrasadas, cartões de crédito no limite, saldo negativo nas instituições financeiras e pendências em estabelecimentos comerciais.
Se você se encaixa nesse cenário, saiba que não está sozinho. Milhões de pessoas acordam diariamente com a mesma preocupação. A seguir, continue lendo e confira um passo a passo sobre como lidar com essa situação e destacar a importância de priorizar e pagar suas dívidas e contas.
Dívida: problema afeta milhões de brasileiros
De acordo com dados da Serasa, de abril de 2022, mais de 66 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Números da Confederação Nacional do Comércio (CNC), de maio, mostram que 28,7% das famílias do país enfrentam contas ou dívidas atrasadas, o maior percentual desde janeiro de 2010.
Problemas com cartões de crédito, carnês, financiamentos de veículos e residências, empréstimos e cheques especiais são as principais preocupações dos brasileiros.
Estes compromissos financeiros consomem, em média, mais de 30% da renda dessas famílias, sendo que algumas chegam a destinar mais da metade de seus recursos para pagar essas contas.
Contas essenciais, como as de luz, água e gás, também estão na lista das pendências financeiras. Cerca de 23% dos inadimplentes do país têm essas contas como suas principais pendências, conforme a Serasa. Mas como sair desta situação?
Uma estratégia adotada por 70% daqueles com pendências financeiras é a escolha de qual dívida pagar primeiro. A seguir, confira uma análise e entenda como priorizar uma dívida quando a capacidade de pagamento é limitada.
Primeira lição: aprenda a lidar com a culpa
Aqueles que têm dívidas sabem que o impacto não se restringe ao aspecto financeiro, afetando também o bem-estar mental e o cotidiano.
Dormir, conseguir se manter concentrado para trabalhar, socializar e manter uma relação saudável com amigos e familiares podem ser tarefas difíceis neste período.
Estudos realizados pela Serasa revelam que 62% dos endividados afirmam que suas pendências financeiras afetam relacionamentos, 85% sofrem de insônia devido a essa situação, e 88% sentem vergonha.
A economista Regiane Vieira, da consultoria Reconomizar, observa que o endividamento tem um impacto emocional significativo. Esta questão vai além de problemas financeiros e causa muito sofrimento. Ela destaca que encarar a realidade das pendências financeiras envolve um processo interno de autoconhecimento e autocuidado.
Ignorar estes sentimentos negativos pode levar a decisões precipitadas, como a obtenção de empréstimos sem avaliação adequada, resultando em gastos adicionais com juros. Portanto, antes de considerar qual a dívida pagar primeiro e como sair deste problema financeiro, é fundamental superar a culpa, compreendendo que a causa do problema vai além de falta de organização e planejamento financeiro.
Considere fatores externos
Além dos desafios pessoais, fatores externos também desempenham um papel importante. O desemprego, que atinge 10,5% da população, reduz a renda dos brasileiros, que foi de R$ 1.353 por pessoa, em média, no ano de 2021, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), marcando o menor valor em uma década.
A inflação de quase 12% em um ano, além dos juros mais altos, também tornam o cenário mais difícil. O dinheiro que entra todo mês se torna insuficiente e não é capaz de cobrir todas as despesas. As contas chegam com valores cada vez mais elevados, aumentando o custo de vida e pressionando ainda mais o orçamento.
A educadora financeira Ângela Tosatto e a economista Regiane Vieira enfatizam que estas pendências não são apenas uma questão de educação financeira, mas também estão relacionadas a questões estruturais, que afetam o crescimento patrimonial das pessoas.
Educação financeira não resolve questões estruturais, mas reduz a vulnerabilidade pessoal. Portanto, o planejamento financeiro deve levar em consideração esses fatores externos que estão além do controle pessoal.
Entretanto, isso não significa que se deve ficar inerte, aguardando melhores condições externas. A ideia é colocar as emoções de lado para adotar uma abordagem mais racional ao lidar com as pendências financeiras, avaliando qual conta pagar primeiro.
Como priorizar dívidas e contas atrasadas
Depois de reduzir a influência das emoções, é hora de listar todas as dívidas e contas atrasadas de forma organizada e racional. Isso envolve:
- Identificar o credor de cada pendência;
- Estabelecer o prazo de atraso de cada conta;
- Determinar o valor exato de cada conta, incluindo o valor já pago e o saldo restante;
- Avaliar os custos associados, como juros e multas;
- Explorar a possibilidade de pausar o pagamento de algumas contas, dependendo da instituição e das circunstâncias;
- Calcular quanto cada dívida consome de sua renda, expresso como uma porcentagem.
Consequências de cada dívida
Após coletar informações essenciais sobre todas as dívidas, é fundamental entender as consequências de não pagar cada uma delas.
Estas consequências podem variar de acordo com o tipo de dívida e incluem desde a inclusão do nome em listas de inadimplência até a perda de serviços essenciais, como água e luz.
É importante que você esteja ciente de como cada dívida pode afetar sua vida. Por exemplo, a falta de pagamento de contas de serviços essenciais pode resultar no corte desses serviços, enquanto contas relacionadas a financiamentos imobiliários ou automotivos podem levar à perda do imóvel ou do veículo.
Após realizar um levantamento completo das contas a serem pagas, e entender suas implicações, é hora de revisar seu orçamento. Determine quanto dinheiro você tem disponível mensalmente e quais são suas despesas essenciais, como moradia, alimentação e transporte.
Subtraia estas despesas essenciais de sua renda mensal. O valor restante é o que você tem disponível para pagar suas contas atrasadas.
Como priorizar suas dívidas
Agora que você tem uma visão clara de sua situação financeira, é hora de priorizar as contas a serem pagas. Existem diferentes abordagens para fazer isso, dependendo de suas circunstâncias pessoais. Confira abaixo:
- Dívidas com juros mais altos:
Uma estratégia comum é priorizar as contas com as taxas de juros mais elevadas, uma vez que essas dívidas crescem mais rapidamente. Pagar primeiro as dívidas com taxas de juros elevadas pode economizar dinheiro, a longo prazo; - Dívidas essenciais:
Outra abordagem é priorizar as contas essenciais, como contas de serviços públicos, aluguel ou hipoteca, que, se não forem pagas, podem resultar na perda de serviços ou moradia; - Negociações:
Considere entrar em contato com seus credores para negociar melhores condições de pagamento. Eles podem estar dispostos a reduzir juros, parcelar o valor total ou oferecer planos de pagamento mais acessíveis; - Dívidas menores:
Algumas pessoas preferem começar pagando as contas de menor valor, eliminando rapidamente estas pendências para obter um senso de realização e motivação; - Empréstimos pessoais:
Se você tem empréstimos pessoais ou empréstimos de amigos e familiares, considere priorizar o pagamento para evitar impactos em seus relacionamentos; - Refinanciamento:
Em alguns casos, o refinanciamento pode ser uma opção viável. Isto envolve a consolidação de várias contas em uma única, muitas vezes com uma taxa de juros mais baixa. No entanto, é importante entender as condições do refinanciamento antes de prosseguir.
A escolha da estratégia depende de sua situação específica e de suas prioridades. É importante lembrar que não há uma abordagem única para todos. O importante é criar um plano realista e sustentável para pagar.
Leia mais: Venda de dívidas: como funciona e o que acontece com o devedor
Compromisso e disciplina
Independente da estratégia escolhida, a chave para sair das dívidas é o compromisso e a disciplina. Cumprir o plano de pagamento regularmente é essencial para alcançar o objetivo de se livrar do problema.
Também é fundamental evitar contrair novas dívidas enquanto trabalha para pagar as atuais. Isto pode exigir mudanças no estilo de vida e hábitos de gastos.
Aprender a viver dentro de suas possibilidades é um passo crucial para manter uma situação financeira saudável no futuro.
Recursos e apoio
Não hesite em procurar recursos e apoio. Existem organizações e profissionais que podem ajudar no processo de gerenciamento de dívidas.
Além disso, compartilhar sua situação com amigos e familiares de confiança pode fornecer suporte emocional e prático.
Sair das dívidas é um desafio, mas é possível com planejamento, determinação e paciência. Priorizar as contas com base em sua situação específica e seguir um plano de pagamento são passos essenciais para conquistar a liberdade financeira. Lembre-se de que a jornada pode ser longa, mas os benefícios de se livrar das dívidas são inestimáveis.
Leia mais: Quando eu NÃO preciso mais pagar minhas dívidas? Entenda