Num mundo onde a agitação e a falta de regularidade nas rotinas dominam, a variação nos horários de acordar pode ser prejudicial ao bem-estar e à saúde em geral, podendo ser tão impactante que interfere na qualidade do sono e nos níveis de stress, com reflexos inclusive em hábitos alimentares e propensão a diversas doenças. Lucas Baraças, co-fundador da startup Vigilantes do Sono, destaca como essa desregulação pode afetar a qualidade do nosso repouso e, consequentemente, a nossa saúde.
Existe horário certo para acordar?
Nossos corpos são regidos por um ritmo circadiano, um relógio biológico interno que organiza as nossas funções biológicas, como a produção de hormônios e as variações de temperatura ao longo das 24 horas do dia. Esse relógio, situado numa região específica do cérebro, gere o nosso ciclo de sono e vigília, sendo fundamental para a nossa harmonia biológica.
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Uma irregularidade nos horários de acordar e adormecer pode desregular esse ritmo circadiano. Isso acontece porque a produção de melatonina, um hormônio crucial para o sono, pode ser afetada, complicando o processo de adormecimento e diminuindo a qualidade do sono. Paralelamente, os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, podem tornar-se desequilibrados, gerando cansaço e irritabilidade durante o dia.
Baraças ressalta que, enquanto pequenas variações de uma hora a mais ou a menos no horário de acordar podem ser toleradas pelo organismo, manter uma regularidade é fundamental para evitar comprometimento do sono. Suhas Kshirsagar, médico ayurvédico e autor de “Mude seus Horários, Mude sua Vida”, reforça a importância de um horário de dormir constante, sublinhando que ficar acordado até tarde em alguns dias e não em outros pode predispor à insônia, afetando a energia e influenciando escolhas alimentares prejudiciais.
A desregulação do ritmo circadiano, de acordo com Francisco Hora, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português da Bahia, está diretamente relacionada a efeitos colaterais sérios como a obesidade. Hora indica que uma má qualidade do sono impulsiona o corpo a buscar alimentos mais calóricos, corroborando a conhecida expressão “dormir mal engorda”. Em longo prazo, o padrão irregular de sono pode se associar a riscos de desenvolver outras enfermidades crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos.
Pesquisas científicas têm comprovado tais associações. Um estudo divulgado no Journal of the American College of Cardiology em 2020, que analisou quase 2000 participantes por mais de cinco anos, evidenciou que alterações no ritmo de acordar e dormir, de mais de 90 minutos durante a semana, mais do que duplicaram o risco de eventos cardiovasculares como infartos ou AVCs. Outra pesquisa, de 2018, publicada no The Lancet Psychiatry, feita com mais de 90 mil pessoas, relacionou as interrupções do ritmo circadiano com um maior risco de transtornos de humor.
Mantenha seu sono regularizado
Manter a regularidade no sono pode demandar esforço, mas é essencial para a saúde. É crucial evitar o botão da soneca e expor-se à luz solar, bem como criar rituais noturnos relaxantes, como usar abajures de luz baixa, evitar telas e optar por leitura de livros e banhos relaxantes. Algumas dicas incluem agendar atividades prazerosas para as manhãs e evitar longos cochilos durante o dia, equilibrando os padrões de sono e consequentemente contribuindo para uma vida mais saudável e equilibrada.
Dessa forma, a conscientização acerca da importância da regularidade no sono torna-se cada vez mais crucial, à medida que os impactos de um ritmo de vida desregulado se tornam evidentes, refletindo-se em nossa saúde física e mental. Adotar uma rotina de sono regular e equilibrada é um passo fundamental na promoção de uma vida mais saudável e harmoniosa.
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