Um grupo de especialistas em endocrinologia propôs, recentemente, uma mudança importante: eliminar de vez o termo “remédios para emagrecer” do nosso vocabulário. Saiba mais detalhes, a seguir, sobre o tema abordado pelos especialistas e entenda os motivos benéficos que uma eventual mudança na nomenclatura dos medicamentos impactaria na vida de pessoas com obesidade.
O limite saudável para emagrecer
Se você nunca teve uma conversa sobre isso (o que duvidamos), é provável que já tenha ouvido falar sobre medicamentos para perder peso. Quem nunca, não é mesmo? No entanto, recentemente, em um artigo publicado na revista Archives of Endocrinology and Metabolism, um grupo de especialistas em endocrinologia propôs uma mudança importante: eliminar de vez o termo “remédio para emagrecer” do nosso vocabulário.
Saiba mais detalhes, a seguir, sobre o tema abordado pelos especialistas e entenda a importância em se mudar a linguagem normalmente usada quando se aborda o tema “emagrecimento” e obesidade.
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Chamem o remédio pelo nome adequado
Os especialistas esperam que, com o tempo, esse termo se torne tão inadequado quanto muitas outras palavras que preferimos não mencionar aqui, pois aprendemos que elas reforçam o estigma em relação a certas pessoas ou grupos. Em vez de “remédio para emagrecer”, eles sugerem que todos prefiram “medicamento antiobesidade” ou “medicamento para tratar a obesidade”. Eles argumentam que essa mudança de terminologia faz diferença e esperam que ela se torne parte natural do nosso discurso.
Essa mudança de linguagem é vista como fundamental para aumentar a adesão ao tratamento da obesidade, uma condição que afeta cerca de 6,7 milhões de brasileiros, de acordo com estimativas do Ministério da Saúde. Além disso, a substituição dos termos também pode ajudar a reduzir o estigma em relação aos medicamentos que podem ser prescritos para tratar a obesidade.
Pessoas com obesidade realmente precisam de medicamentos?
A resposta, de acordo com o endocrinologista Marcio Mancini, chefe da Unidade de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e coordenador de um tratado sobre a obesidade, é que não todas, mas quase todas precisam. Os estudos mostram que apenas cerca de 5% das pessoas conseguem perder peso apenas com mudanças no estilo de vida a longo prazo.
É importante destacar o “a longo prazo” aqui. Embora haja pessoas com sobrepeso e obesidade que conseguem emagrecer adotando uma alimentação saudável e fazendo exercícios físicos, é comum que o corpo reaja tentando recuperar a gordura perdida. Isso ocorre devido ao desequilíbrio nos hormônios que regulam o apetite, como explica Mancini. Portanto, os medicamentos não devem ser vistos como uma solução mágica que dispensa a dieta saudável e a atividade física.
4 razões para mudar nome de medicamentos para obesidade
O Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CEBAEM) de 2023, que começou recentemente em João Pessoa, Paraíba, abordará as razões pelas quais devemos adotar essa nova nomenclatura para os medicamentos relacionados à obesidade. São, pelo menos, quatro razões convincentes, as quais mencionamos, a seguir.
1. Obesidade é uma doença
Quando nos referimos a “medicamento para obesidade”, fica mais claro que estamos tratando de uma doença, como aponta o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Em contrapartida, o termo “remédio para emagrecer” muitas vezes evoca a ideia de um desejo estético de emagrecer, como para entrar em um vestido de festa ou exibir um abdômen definido. No entanto, é fundamental que médicos e pacientes compreendam que o objetivo da prescrição não é apenas atender a um ideal de beleza, mas sim controlar uma doença que reduz drasticamente a expectativa de vida.
Segundo Marcio Mancini explicou ao Uol, pessoas que enfrentam a obesidade desde a infância e mantêm essa condição na vida adulta podem ter sua expectativa de vida reduzida em 8 a 12 anos. Portanto, o tratamento da obesidade deve ser encarado com seriedade, pois pode oferecer aos pacientes a oportunidade de viver uma vida mais saudável e longa.
Embora um medicamento antiobesidade possa melhorar a autoestima e contribuir para um corpo mais magro, seu impacto mais significativo está em reduzir os riscos associados à obesidade, como doenças cardíacas, diabetes, câncer e outras condições graves.
2. Cuidado para a vida toda
O tratamento da obesidade é uma jornada de longo prazo. Ao receber a prescrição de um “medicamento para obesidade”, muitas pessoas tendem a perceber que têm uma condição crônica e que precisarão tomar a medicação indefinidamente. Isso é semelhante ao tratamento de doenças como a hipertensão, onde interromper o uso do medicamento pode resultar em um aumento da pressão arterial.
É importante destacar que o termo ‘remédio para emagrecer’ não causa a mesma impressão. Ele sugere que a medicação é apenas para aliviar um sintoma temporário e pode ser abandonada assim que o sintoma desaparecer. Essa diferença na percepção pode contribuir para a falta de confiança no tratamento da obesidade.
3. O perigo nas “fórmulas milagrosas”
Ao utilizar as expressões ‘medicamento para tratar a obesidade’ ou ‘medicamento antiobesidade’, evitamos confusões perigosas entre medicamentos seguros, que passaram por rigorosos estudos clínicos, e fórmulas milagrosas que prometem resultados rápidos, muitas vezes divulgadas nas redes sociais. Essas fórmulas não apenas frequentemente não cumprem suas promessas, mas também podem representar riscos significativos para a saúde.
É importante destacar que a prática de recomendar fórmulas milagrosas não é exclusiva do Brasil e acontece em todo o mundo. Alguns profissionais exploram a obesidade como um nicho de mercado, promovendo produtos duvidosos para emagrecimento, o que é altamente prejudicial.
4. Respeitando a condição
Respeitar quem tem obesidade é fundamental. Ao mencionar “remédios para emagrecer”, é importante evitar reforçar estereótipos prejudiciais sobre as pessoas com obesidade. Isso inclui a ideia errônea de que a obesidade é resultado de má alimentação e falta de exercício, e que as pessoas com obesidade não têm força de vontade para emagrecer.
Na realidade, a obesidade é uma condição complexa com influências genéticas significativas. Muitas pessoas magras também têm hábitos alimentares ruins e são sedentárias, mas têm uma predisposição genética diferente. Portanto, é essencial tratar a obesidade com respeito e compreensão, reconhecendo que é uma condição médica legítima.
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*Com informações do Uol.