A 123 milhas, agência especializada em viagens, atraiu a atenção do país inteiro ao anunciar, em 18 de agosto, a suspensão da emissão de passagens e pacotes da sua linha promocional dos últimos quatro meses deste ano, ocasionando uma avalanche de mais de 5 mil reclamações contra a empresa no Procon-SP e em vários processos judiciais. Alguns dias depois a empresa demitiu centenas de funcionários e pediu recuperação judicial. Continue a leitura e entenda, em detalhes, a história.
Prejuízo nas alturas
A agência de viagens 123milhas surpreendeu muitas pessoas ao anunciar, em agosto deste ano, que suspenderia a emissão de passagens e pacotes da sua linha promocional de setembro a dezembro deste ano. Essa decisão resultou em mais de 5 mil reclamações contra a empresa no Procon-SP e em vários processos judiciais, marcando um capítulo controverso em sua história.
Cerca de 10 dias após o anúncio, a 123milhas começou a demitir seus funcionários, e mais de 250 deles foram dispensados, agravando ainda mais a situação da empresa. Como consequência dessas dificuldades financeiras, a 123milhas entrou com um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e esse pedido foi aceito no último dia 31 de agosto, com um valor estimado da causa de R$ 2,30 bilhões.
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Como surgiu a 123 milhas?
A 123 milhas, fundada em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 2016, tem como sócios os irmãos Ramiro Julio Soares Madureira e Augusto Julio Soares Madureira, que atuam como administradores, e a Novum Investimentos Participações S/A como sócia. Além disso, Ramiro e Augusto também estão envolvidos na gestão da Maxmilhas e da HotMilhas, empresas do mesmo setor.
A empresa se destacou como o segundo maior anunciante do Brasil, de acordo com o ranking Agências & Anunciantes, realizado em parceria com a Kantar Ibope Media e publicado pelo jornal Meio & Mensagem.
Investimento pesado em anúncios
Em 2021, a 123milhas investiu R$ 1,18 bilhão em compra de espaços publicitários em veículos brasileiros, e no ano anterior, esse investimento foi ainda mais expressivo, chegando a R$ 2,37 bilhões, tornando a empresa líder no ranking de maiores anunciantes do Brasil, superando gigantes como Samsung, Unilever, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil.
A fusão
Em janeiro de 2023, a 123milhas e a Maxmilhas anunciaram um plano de fusão entre as empresas, o que gerou expectativas e especulações no mercado. Embora a Maxmilhas também seja sediada em Belo Horizonte e tenha sido fundada em 2012 por Max Oliveira, atualmente, os administradores da 123milhas são os únicos que constam no quadro societário da empresa, com Ramiro como presidente e Augusto como diretor. No entanto, a Maxmilhas afirma ter operações independentes da 123milhas e nunca ter comercializado pacotes “flexíveis”, esclarecendo a distinção entre as duas marcas.
A estratégia que parou na justiça
A linha promocional da 123milhas oferecia passagens aéreas e estadias a preços mais baixos do que o mercado, mas sem uma data de embarque definida, pois a agência precisava buscar voos e acomodações mais econômicos.
No entanto, a demanda por viagens aumentou no pós-pandemia, o que resultou no aumento dos preços dos serviços. Isso levou a 123milhas a enfrentar dificuldades para encontrar passagens e acomodações que se encaixassem nos valores oferecidos aos clientes.
Promessa aos clientes lesados
A empresa anunciou que os valores gastos pelos clientes com produtos da linha “PROMO” no período seriam integralmente devolvidos em vouchers, com correção monetária de 150% do CDI. Esses vouchers poderiam ser usados para comprar outros produtos da 123milhas, uma medida destinada a amenizar o impacto da suspensão da linha promocional.
Além disso, a empresa justificou sua decisão de suspender a linha promocional devido à persistência de fatores econômicos e de mercado adversos, principalmente relacionados à pressão da demanda e ao preço das tarifas aéreas. A 123milhas enfatizou seu compromisso com a transparência e a ética, fornecendo dados, informações e esclarecimentos às autoridades competentes sempre que solicitados.
A recuperação judicial
A recuperação judicial, que foi aceita pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, visa assegurar o cumprimento dos compromissos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores. A empresa acredita que essa medida permitirá concentrar todos os valores devidos em um só juízo, facilitando a busca por soluções com todos os credores e, assim, reequilibrar sua situação financeira.
A 123milhas ressaltou sua disposição em colaborar na construção de medidas que permitam pagar seus débitos, recompor sua receita e continuar contribuindo para o setor turístico brasileiro. O futuro da empresa permanece incerto, mas ela está determinada a superar os desafios e voltar a desempenhar um papel importante no mercado de viagens.
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