Segundo relatos recentes de viajantes brasileiros pela Argentina, comerciantes das principais cidades turísticas do país estão se adaptando ao pagamento mais famoso do Brasil atualmente: o Pix. A estratégia é adotada por conta da forte presença de brasileiros no país anualmente, que, principalmente com a desvalorização da moeda local, fortalecem o turismo da Argentina. Mas como os comerciantes conseguem receber os pagamentos através do sistema de pagamento exclusivamente brasileiro? Entenda os detalhes, logo abaixo.
Integração do Pix no mercado argentino
A adaptação do sistema de pagamento instantâneo Pix na Argentina tem sido notada de forma inusitada. Em um relato compartilhado no Twitter em fevereiro deste ano, um usuário mencionou sua surpresa ao entrar na loja da Cachafaz, localizada em Buenos Aires, próxima ao estádio do Boca Juniors, e ser atendido por uma atendente que dominava o portunhol melhor do que ele.
O detalhe mais intrigante foi a maneira como ela ofereceu a opção de pagamento via Pix. Em outro post recente, uma usuária expressou sua satisfação por ter comprado dois alfajores na Argentina e ter pago por eles usando o Pix, celebrando sua identidade brasileira.
Adoção surpreendente
A adaptação do Pix no país vizinho surpreendeu até mesmo os brasileiros que testemunharam sua implementação. Durante suas viagens à Argentina, Thais Durand observou a aceitação do Pix por comerciantes locais até mesmo na Feira de Antiguidades de San Telmo. Essa experiência inesperada levou Thais a questionar como os comerciantes argentinos acessavam os fundos recebidos por meio desse sistema inovador.
Leia mais: Quando o Pix acaba para usar apenas o Drex? Confira mais detalhes
Desafios na implementação
A introdução do Pix na Argentina não está isenta de desafios. Um relato da BBC em julho expôs como uma vendedora argentina de Puerto Iguazú precisou da ajuda de um amigo brasileiro para receber um pagamento através do Pix. Em outros casos, comerciantes recorreram a contas de familiares ou sócios brasileiros para usar o sistema de pagamento.
Isso ocorre porque o processamento e a conversão das transações Pix, seja de pesos ou dólares, são realizados no Brasil. Consequentemente, os clientes brasileiros são submetidos a uma taxa de 0,38% de Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro (IOF), que incide sobre transações cambiais.
Incentivos turísticos
A adoção criativa do Pix pelos comerciantes argentinos pode ser compreendida considerando o fluxo turístico entre os dois países. Os brasileiros representam o terceiro maior grupo de turistas na Argentina, depois dos uruguaios e chilenos.
A atração se encontra na vantagem cambial, uma vez que a desvalorização do peso argentino em comparação com as moedas das nações vizinhas e o dólar torna a área um local atraente. Esse cenário foi intensificado pela conquista nas prévias das eleições presidenciais argentinas do candidato de orientação política extrema, Javier Milei.
Soluções emergentes com o Pix
Apesar dos desafios iniciais, as soluções para a integração do Pix no mercado argentino estão crescendo. A partir de junho de 2023, empresas como a fintech argentina KamiPay começaram a oferecer plataformas que permitem que lojas argentinas aceitem pagamentos por meio do Pix.
A KamiPay apresentou uma abordagem semelhante ao sistema brasileiro, com os clientes escaneando um QR Code disponibilizado por um aplicativo e o valor sendo convertido em reais na conta do cliente, enquanto o comerciante argentino recebe em pesos ou dólar digital.
Dólar digital e benefícios para o comércio
Uma peculiaridade da KamiPay é a introdução do “dólar digital”, uma moeda denominada em dólar que é transmitida por blockchain. Essa moeda pode ser prontamente trocada por moeda local e depositada em qualquer banco da Argentina.
Com essa abordagem, o Pix oferece uma alternativa mais eficiente em comparação aos tradicionais pagamentos com cartão de crédito, reduzindo o período de espera de 10 dias úteis para apenas 20 segundos. Isso tem beneficiado particularmente o comércio argentino, especialmente em destinos turísticos como Buenos Aires, Bariloche e Mendoza.
Compras por QR Code
A KamiPay não é a única empresa interessada no mercado argentino. A empresa americana Fiserv também lançou uma solução de pagamento via QR Code em junho de 2023. Nesse sistema, o valor a ser pago é convertido em reais no momento da compra, minimizando os riscos de flutuações cambiais.
Enquanto essas soluções emergentes oferecem inovação ao mercado argentino, o Banco Central do Brasil, responsável pela criação do Pix, ainda não divulgou informações sobre a possível exportação dessa tecnologia para a Argentina.
Leia também: Posso enviar dinheiro por Pix para quem não tem conta em banco?
*Com informações do g1