Fenômeno que não pode ser previsto nem pela inteligência artificial – Ao mencionarmos tempestades, é comum que imediatamente nos venham à mente imagens de fortes ventos, trovões, relâmpagos e precipitação intensa. No entanto, essas manifestações atmosféricas, tão comuns em nosso planeta, encontram equivalentes ainda mais impressionantes no vasto universo: as tempestades solares. Esses fenômenos, que podem ter impactos significativos aqui na Terra, resultam de explosões de partículas superaquecidas na superfície do Sol.
Inteligência artificial é capaz de frear este fenômeno?
A atividade do Sol é incessante e complexa. Em seu núcleo, ocorre uma grande produção de energia por meio da fusão nuclear, processo que libera prótons e elétrons. Estes, atraídos e acumulados em campos magnéticos, formam um caldo energético extremamente denso. Ocorre então que, em determinadas condições, essa acumulação pode resultar em explosões, que geram intensos ventos cósmicos, capazes de alcançar os planetas do Sistema Solar. Essas tempestades solares ocorrem com maior frequência durante o que os cientistas chamam de máximo solar, período no qual o Sol alcança seu pico de atividade magnética, que se dá a cada 11 anos.
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Embora possa parecer algo distante e de pouca relevância para nossa vida cotidiana, essas tempestades solares podem, em alguns casos, interferir diretamente na vida na Terra. Para nossa sorte, o planeta é protegido por um campo magnético chamado Magnetosfera, que funciona como um escudo, evitando que as partículas solares atinjam diretamente nossa atmosfera. A atuação da Magnetosfera é tão eficaz que, a despeito da intensidade das tempestades solares, o principal efeito perceptível em nosso planeta costuma ser a formação de belíssimas auroras boreais ou auroras polares.
No entanto, por mais eficaz que seja a proteção proporcionada pela Magnetosfera, as tempestades solares podem causar impactos em alguns aspectos da vida terrestre. Os ventos gerados pela explosão de partículas superaquecidas no Sol, ao atingirem o campo magnético da Terra, podem causar interferências em alguns instrumentos tecnológicos que utilizamos no dia a dia. As partículas solares geram correntes magnéticas que podem chegar ao solo e às rochas da superfície terrestre, causando desregulação nas tensões das distribuidoras de energia e interferindo no funcionamento de ondas de radiofrequência.
Histórico registra casos emblemáticos de tais interferências. Em 1989, na província de Quebec, no Canadá, alterações no campo magnético da Terra causadas por partículas solares resultaram em um grande apagão. Milhares de pessoas ficaram sem eletricidade durante horas e a comunicação via rádio foi interrompida. Em um caso ainda mais extremo, em 1859, linhas de telégrafos foram rompidas. Alguns telegrafistas chegaram a receber choques elétricos e postes produziram faíscas em função da descarga gerada pela tempestade solar. Esse episódio, conhecido como Evento Carrington, foi tão intenso que auroras polares puderam ser vistas em locais mais ao sul da Europa e da América do Norte.
Consequências
Segundo o Professor Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), as consequências de tempestades solares de grandes proporções, como as ocorridas em 1859 e 1889, seriam hoje ainda mais graves, devido à dependência que temos de informações que circulam por instrumentos associados ao funcionamento de satélites. Além disso, diversas cidades ao redor do mundo ficariam sem energia, gerando prejuízos que poderiam alcançar bilhões de dólares.
O professor ainda comenta sobre como seriam as condições na Terra caso nosso planeta não contasse com a proteção da Magnetosfera. Segundo ele, sem essa proteção, a Terra poderia ter características semelhantes às de Vênus ou Marte. Por exemplo, no passado, Marte possuía uma Magnetosfera e uma atmosfera espessa, mas a perda da Magnetosfera resultou em uma atmosfera rarefeita, a diminuição do efeito estufa e a queda da temperatura ambiente, tornando o planeta árido e frio. Já Vênus, por estar mais próximo do Sol, sofreu a perda de elementos químicos leves em sua atmosfera, o que resultou na predominância do dióxido de carbono. Como Vênus não possui Magnetosfera, sua atmosfera está sendo continuamente destruída pelo vento solar.
No entanto, apesar da preocupação que as tempestades solares podem causar, recentes pesquisas sugerem que a atividade solar está em declínio, o que poderá trazer consequências climáticas em algumas décadas. Os avanços tecnológicos e dos modelos teóricos sobre o comportamento solar têm permitido o monitoramento eficaz das atividades do Sol. Assim, prevê-se que, no futuro, previsões cada vez mais precisas sobre tempestades e outras atividades solares se tornarão realidade. No entanto, o Professor Enos Picazzio alerta que, ainda que uma explosão solar de grandes proporções seja prevista com antecedência, não há muito que possamos fazer a respeito. A elaboração de um plano de contingência, especialmente pelos países do hemisfério norte, é crucial para lidar com possíveis eventos dessa natureza.
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