Cruzando o Saara em busca de pedras espaciais valiosas

No deserto do Saara, uma atividade inusitada vem chamando a atenção: a caça a meteoritos. Enquanto os nômades da Mauritânia conduzindo seus rebanhos sob o sol escaldante, olham para o chão em busca de rochas raras. A expectativa é simples, mas cheia de esperança: encontrar um fragmento que veio de lugares distantes, como a Lua ou Marte, e transformá-lo em uma fonte de renda.
### Caçadores e técnicas no deserto
Na capital Nouakchott, encontramos Hame Ould Sidi Othmen, um caçador experiente que exibe com orgulho sua coleção de meteoritos. Para ele, a busca não é apenas um hobby, mas uma verdadeira paixão. Ele viaja por todo o país, identificando essas rochas especiais pela crosta escura que se forma durante a entrada na atmosfera terrestre. Hame afirma que a identificação pode ser feita apenas com o olhar atento ou com uma lupa simples.
Essa prática, que mistura paciência e sorte, está atraindo cada vez mais interessados, especialmente pela possibilidade de lucros altos. No entanto, a incerteza permanece, já que o mercado ainda não possui regras bem definidas nem controles claros.
### Comércio que se expande nas redes
O interesse por meteoritos disparou nos últimos anos, especialmente após a descoberta do famoso meteorito Tissint, encontrado no Marrocos, há cerca de uma década. Desde então, a demanda só aumentou. Os preços são bastante variados: há fragmentos que podem chegar a custar até mil dólares por grama, enquanto outros valem apenas dez dólares. Devido a essa diferença, muitos caçadores optam por guardar suas descobertas.
Além disso, a negociação dessas pedras se transfere cada vez mais para o digital. Plataformas como WhatsApp e TikTok estão se tornando espaços populares para a exibição e venda dessas rochas. Em Bir Moghrein, no norte da Mauritânia, intermediários fazem avaliações antes de revender as peças a compradores internacionais.
### Falta de leis e reconhecimento científico
Apesar do crescimento dessa nova economia, a Mauritânia ainda enfrenta desafios. O país não possui centros de análise dedicados à meteoritos, nem legislação específica para regulamentar esse comércio. O planetólogo Ely Cheikh Mouhamed Navee destaca que há uma falta de reconhecimento científico dos meteoritos como parte do patrimônio nacional. Muitos nômades têm que confiar apenas na sua própria experiência ou enviar amostras para análise em laboratórios no exterior.
Ele defende a criação de um sistema de monitoramento, com câmeras para registrar quedas de meteoritos no deserto, além de um museu nacional que proteja e valorize essas valiosas rochas espaciais.



