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Aos 109 anos, ela planta 8 mil árvores e transforma estradas em floresta

No interior árido do estado de Karnataka, no sul da Índia, uma mulher simples, sem estudos formais e recursos financeiros, dedicou sua vida a um ato que, à primeira vista, parecia pequeno: plantar árvores. Trinta anos depois, esse gesto se transformou em um dos maiores exemplos de regeneração ambiental, protagonizado por uma única pessoa. Seu nome é Saalumarada Thimmakka, e sua história é admirada por ambientalistas e reconhecida internacionalmente, até pela ONU Meio Ambiente.

Com mais de 100 anos, Thimmakka é considerada uma heroína nacional na Índia. Na década de 1980, junto com seu falecido marido, começou uma jornada transformadora: plantar mudas de baniane, a árvore sagrada da Índia, ao longo da estrada que conecta as vilas de Hulikal e Kudur. Sem financiamento ou apoio governamental, movida apenas pelo desejo de ver a natureza restaurar o solo seco da região, ela criou um corredor verde de 45 quilômetros, que abriga mais de 8 mil árvores maduras.

Uma floresta nascida do amor e da paciência

O começo da história foi modesto. Thimmakka e Bikkala Chikkayya, seu marido, não tinham filhos. Para preencher esse espaço, decidiram plantar árvores às margens da estrada perto de casa. Sem água encanada ou ferramentas, eles enfrentavam desafios: carregavam baldes d’água por longas distâncias e protegiam as mudas com galhos secos para evitar que o gado as destruísse.

Durante anos, a rotina virou quase um ritual sagrado. A cada estação de chuvas, novas mudas ganhavam vida; nas secas, eles cuidavam das árvores como quem cuida de filhos. Com o passar do tempo, notaram que o microclima local começava a mudar: a temperatura caiu, a terra se tornou mais úmida e os pássaros voltaram. O que antes era um deserto começou a florescer.

Quando Chikkayya faleceu, Thimmakka não parou. “Eu não tive filhos de sangue, mas tenho milhares de filhos de folhas”, disse em uma entrevista.

De camponesa anônima a símbolo mundial do meio ambiente

O que começou como uma história local logo ganhou destaque na mídia. O Departamento Florestal de Karnataka identificou que as árvores de Thimmakka estabilizaram o solo, reduziram a erosão e aumentaram a biodiversidade local. Algumas árvores, hoje, alcançam mais de 20 metros de altura e abrigam diversas espécies de aves.

Aos 80 anos, ela foi homenageada com o National Citizen Award, uma das mais altas distinções civis da Índia, e mais tarde entrou na lista da BBC das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo. Em 2019, recebeu o Padma Shri, uma das maiores condecorações da República Indiana, das mãos do presidente Ram Nath Kovind.

Em um discurso sincero, explicou: “Eu não fiz isso por prêmios. Fiz porque a terra é nossa mãe, e nós devemos cuidar dela.”

O impacto ecológico reconhecido pela ciência

O projeto de Thimmakka se tornou alvo de estudos em universidades indianas. Pesquisadores da Universidade de Bangalore e do Instituto Indiano de Ciência verificaram que suas árvores resultaram em uma redução de até 2,5°C na temperatura média da área, além de um aumento na umidade do ar e no retorno da fauna local.

A floresta que ela criou agora faz parte do programa de conservação Thimmakka Green Belt, que visa replicar esse modelo em outras estradas de Karnataka. Estima-se que as árvores plantadas por ela absorvem mais de 4 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, o que equivale à emissão anual de cerca de mil carros.

Esse exemplo inspirou movimentos ecológicos e fundações ambientais em todo o país, como a Thimmakka Foundation, que atua no reflorestamento e na educação ambiental em comunidades rurais.

A “Mãe das Árvores da Índia”

Em um país com 1,4 bilhão de habitantes e uma das maiores taxas de desmatamento urbano do mundo, Thimmakka é vista como uma verdadeira guardiã da natureza. Sua história é parte do currículo escolar, livros e documentários. Em Karnataka, ela é carinhosamente chamada de “A Mãe das Árvores” (Vriksha Mathe).

Mesmo com a idade avançada, Thimmakka continua a acompanhar o crescimento de suas árvores, apoiada por uma bengala e pela admiração de todos que a visitam. Ela vive de forma simples, recusa luxos e reside em uma pequena casa no vilarejo de Hulikal.

Quando questionada sobre o início de sua jornada, ela responde com uma paz que parece vir da essência da floresta: “Eu não fiz isso por mim. Fiz porque as árvores também sentem sede. Fiz porque alguém precisava cuidar delas.”

Saalumarada Thimmakka: o legado de uma vida plantada na terra

O impacto de Thimmakka não se limita à Índia. Em 2020, a ONU Meio Ambiente a reconheceu como um exemplo global de ação individual pelo clima. Sua história é mencionada em relatórios sobre restauração ecológica e já inspirou iniciativas em países como Vietnã, Quênia e Brasil.

A biografia dela é uma lição de paciência e propósito, mostrando que mudanças significativas podem surgir do esforço silencioso de uma única pessoa. Enquanto muitos debatem sobre metas ambientais, Thimmakka provou que a transformação começa com uma pá, um pouco de terra e vontade.

Hoje, quem passa pela estrada de Hulikal a Kudur desfruta da sombra das árvores que ela plantou, em um trecho que antes era árido e esquecido, agora repleto de vida e sons da natureza. Cada árvore ali testemunha uma história de amor pela natureza e a coragem de uma mulher que fez sozinha o que muitos consideravam impossível.

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