A qualidade do ar no Rio Grande do Sul tem sido gravemente afetada pela fumaça das queimadas que ocorrem em outras regiões do Brasil. Esse cenário impacta não só a saúde, mas também o ambiente e as paisagens do estado.
Nos últimos dias, o céu tem apresentado um tom mais opaco, e o horizonte avermelhado ao pôr do sol é um claro sinal da presença de fumaça vinda de queimadas.
De acordo com Francisco Aquino, climatologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fenômeno é causado por uma combinação de fatores climáticos adversos, como ondas de calor intensas, baixa umidade do ar e um bloqueio atmosférico prolongado.
Esses fatores criam condições que permitem o acúmulo de fumaça no ar, prejudicando a visibilidade e a qualidade do ar em várias partes do estado.
Material na atmosfera pode alterar a cor da chuva
Segundo Aquino, a fumaça presente na atmosfera também pode interferir na cor da chuva. “Quem coleta água da chuva pode perceber uma coloração diferente na água, resultado do material depositado junto”, explica o especialista.
Esse material particulado vem das queimadas e é transportado pelo ar até as áreas urbanas e rurais do Rio Grande do Sul.
O cenário climático atual, com temperaturas acima da média e uma estiagem prolongada, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, contribui para que o corredor de fumaça se mantenha ativo por mais alguns meses.
A previsão é que o calor intenso e a falta de chuvas continuem, intensificando os impactos tanto no ar quanto na saúde das pessoas.
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Riscos à saúde causados pela fumaça de queimadas
A presença de partículas de fumaça no ar representa um risco significativo para a saúde da população. A pneumologista Caroline Freiesleben alerta que esses poluentes podem provocar inflamações nas vias aéreas, especialmente em pessoas que já têm problemas respiratórios.
“Manter-se hidratado é essencial. Beber bastante água e usar máscaras são medidas importantes, especialmente para quem já tem doenças pulmonares preexistentes”, aconselha a médica.
A fumaça de queimadas pode agravar condições como asma, bronquite e outras doenças respiratórias crônicas.
O uso de máscaras se tornou uma recomendação, principalmente para quem vive nas regiões mais afetadas ou que tem exposição prolongada ao ar poluído.
Fumaça no RS: um fenômeno recorrente
O Rio Grande do Sul tem enfrentado, nos últimos anos, episódios repetidos de fumaça vinda de queimadas de outras partes do Brasil e até de países vizinhos.
O major Silvano Oliveira Rodrigues, presidente da Câmara Técnica de Combate a Incêndios Florestais, destaca que o estado entra em uma fase crítica durante o verão.
“A combinação de 30 dias sem chuva, umidade do ar abaixo de 30% e temperaturas acima de 30°C cria condições perfeitas para incêndios florestais”, afirma o especialista.
Nos últimos meses, a fumaça também encobriu o céu de Porto Alegre, deixando-o com uma tonalidade acinzentada.
Esse fenômeno foi causado principalmente pelos incêndios florestais ocorridos no norte da Argentina, no Paraguai e no Pantanal, ao sul do Mato Grosso do Sul.
Outros episódios de fumaça no estado
Episódios como esses não são inéditos no Rio Grande do Sul. Em setembro de 2022, uma grande nuvem de fumaça originada em queimadas na Amazônia chegou à Região Sul do Brasil, afetando especialmente as cidades do norte gaúcho.
Já em fevereiro do mesmo ano, a fumaça de incêndios florestais na província de Corrientes, na Argentina, atingiu a cidade de Uruguaiana, na Fronteira Oeste do estado, alterando a paisagem local.
Além disso, em setembro de 2020, a fumaça vinda das queimadas no Pantanal, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, também chegou ao estado, agravando a qualidade do ar.
Esses eventos são exemplos de como as queimadas, mesmo distantes, podem ter impactos regionais significativos, afetando diretamente a população gaúcha e sua saúde.