Pela primeira vez, cientistas puderam examinar imagens do cérebro no exato momento da morte de um paciente. O estudo é uma oportunidade de analisar a crença popular de que, no último instante, toda a vida de uma pessoa passa diante dos seus olhos. Será que isto acontece, mesmo? E após os segundos finais de uma pessoa, o que ocorre? Entenda como funcionou a intrigante pesquisa e veja respostas para estas perguntas.
Estudo mostra atividade do cérebro no momento final
O estudo envolveu um paciente de 87 anos com epilepsia, que estava passando por um eletroencefalograma, quando sofreu um ataque cardíaco súbito. É importante ressaltar que as conclusões do estudo se baseiam em um único caso e que o cérebro do paciente já estava comprometido em função da epilepsia. Por este motivo, são necessárias pesquisas adicionais para determinar se o cenário do resultado se aplica de forma mais ampla à população em geral. Os resultados foram divulgados no periódico científico Frontiers in Aging Neuroscience.
O neurocirurgião Fernando Gomes, ao explicar os diferentes mecanismos cerebrais durante os momentos finais da vida, destacou que o estudo conseguiu registrar atividades do cérebro instantes antes e depois da morte do paciente. O estudo observou que cerca de 15 segundos antes e depois do evento da morte, acontecem oscilações gama, indicando um ritmo cerebral com uma frequência superior a 32 hertz.
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O que são as ondas gama?
As ondas gama, que coordenam a atividade dos neurônios, também estão associadas a funções como memória, meditação e sonhos humanos. O neurocirurgião mencionou que durante o sono REM, período de relaxamento corporal com alta atividade cerebral, estas ondas de alta frequência podem ser detectadas.
Embora não seja possível provar, do ponto de vista elétrico, a ideia de uma “superconsciência” antes da morte, na qual memórias emocionais significativas podem ser reativadas, faz sentido. Em eventos como um acidente vascular cerebral (AVC), os neurônios suportam a falta de oxigenação e nutrientes por até cinco minutos. Da mesma forma, após a parada cardíaca, as células do corpo humano continuam a mostrar atividade por algum tempo.
E o que é possível afirmar com o novo estudo?
O estudo publicado no periódico científico Frontiers in Aging Neuroscience acrescenta uma perspectiva intrigante aos momentos finais da vida e, embora não possa confirmar a experiência de “ver a vida passar diante dos olhos”, oferece uma base científica para considerações futuras.
O registro das ondas cerebrais na superfície do crânio, realizado pela primeira vez pelo neuropsiquiatra alemão Hans Berger, na década de 1920, marcou o início da eletroencefalografia, uma técnica que, desde então, se tornou uma parte integral da prática clínica.
Eletroencefalograma mudou panorama das análises cerebrais
As primeiras menções na literatura médica sobre a possibilidade de capturar e registrar atividades elétricas do sistema nervoso central de animais foram feitas por Caton, em 1875. Naquela ocasião, ele observou correntes elétricas no córtex de coelhos e macacos, durante um congresso de fisiologistas ingleses realizado em Edimburgo, embora haja poucos detalhes disponíveis sobre esta demonstração inicial.
O pioneiro eletrencefalograma (EEG) humano foi registrado por Hans Berger em 1924, utilizando o galvanômetro de dupla bobina, equipamento fabricado pela Siemens e Halske. A publicação inicial dos resultados data de 1929 e continua sendo admirada até hoje pela qualidade dos traçados obtidos, o rigoroso controle das fontes de erro e a interpretação precisa dos resultados. Desde a sua descoberta, o exame foi sendo aperfeiçoado e se tornou essencial para analisar a atividade cerebral e fazer o diagnóstico de diversas doenças.
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