O número de casos de hanseníase dobrou nos últimos 10 anos nos Estados Unidos, chamando a atenção de entidades responsáveis pelo controle e estudos sobre doenças no país, com um possível surto do que já foi considerado o Mal da Idade Média. Saiba mais detalhes sobre as possíveis causas para o aumento de casos da doença.
Mal da Idade Média no século XXI
De acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), as taxas crescentes de infecção sugerem que a lepra ou Hanseníase está se tornando endêmica em partes do sudeste dos Estados Unidos. Especificamente na Flórida, tem havido um aumento significativo nos casos da doença, com a região central do Estado representando mais de 1 em cada 5 infecções em todo o país.
Para lidar com essa situação, o Estado está realizando uma vigilância passiva para monitorar a doença, tornando obrigatório que os médicos relatem os casos dentro de um dia útil. Em uma carta publicada pelo CDC na última segunda-feira (1), foi revelado que 159 novos casos foram relatados nos EUA em 2020.
No entanto, é importante destacar que esses números estão longe daqueles registrados no período em que a lepra se espalhou pela Europa durante a Idade Média. Nessa época, uma em cada 30 pessoas contraiu a doença, resultando em uma das piores epidemias da história mundial.
A disseminação foi tão intensa que os doentes eram isolados e enviados para viver em uma ilha isolada, a fim de proteger a população. No entanto, com a virada do século XVI, a doença cessou gradualmente e, desde então, tornou-se mais rara.
Os sintomas da lepra levam, em média, de cinco a sete anos para se desenvolver, e aqueles que contraem a doença podem apresentar tumores, caroços e úlceras na pele, além de notar descolorações ou dormência na região afetada.
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Hanseníase além da história
Acredita-se que a doença tenha surgido no Oriente e se proliferado pelo mundo através de tribos nômades ou navegadores, como os fenícios.
Conhecida também como lepra ou mal de Lázaro, no passado, essa enfermidade era associada ao pecado, à impureza e à desonra. A falta de conhecimento específico sobre a hanseníase levava frequentemente à sua confusão com outras doenças, especialmente aquelas relacionadas à pele e às doenças venéreas. Isso resultava em preconceito em relação aos seus portadores, já que a transmissão da doença era presumida como sendo por meio do contato corporal, frequentemente de natureza sexual e, portanto, considerado pecaminoso.
Narrativas religiosas relacionavam as marcas na pele com desvios da alma, e o diagnóstico era dado pelos sacerdotes, e não pelos médicos. No Velho Testamento da Bíblia Sagrada, o rei Uzziah recebeu como punição divina a lepra por ter realizado uma cerimônia profana aos sacerdotes. Apesar de ser rei, ele teve que se isolar em uma casa isolada e não foi enterrado no cemitério dos soberanos. Já no Novo Testamento, um episódio marcante é quando Jesus “limpa” um leproso.
Em tempos antigos, os leprosos eram frequentemente enviados para leprosários e excluídos da sociedade. Eles não podiam entrar em igrejas e eram obrigados a usar luvas e roupas especiais. Além disso, carregavam pequenos sinos para anunciar que estavam se aproximando, e, para pedir esmolas, precisavam usar um saco amarrado na ponta de uma longa vara. Não havia cura, e as pessoas evitavam a companhia de um leproso a todo custo.
Somente em 1873, o norueguês Armauer Hansen identificou a bactéria causadora da doença, afastando as crenças de que a hanseníase era hereditária, fruto do pecado ou um castigo divino. No entanto, o preconceito persistiu, e a exclusão social dos acometidos foi reforçada pela ideia de que o confinamento dos doentes era a maneira de erradicar a doença.
No Brasil, até meados do século XX, os doentes eram obrigados a se isolar em leprosários, e seus pertences eram queimados. Essa política visava mais ao afastamento dos portadores do que a um tratamento efetivo. Somente em 1962, a internação compulsória dos doentes deixou de ser regra.
Avanços na pesquisa comprovaram que a hanseníase não é tão contagiosa quanto se acreditava. Terapias foram desenvolvidas, e em 1981, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a poliquimioterapia. Em muitos países desenvolvidos, a hanseníase já foi erradicada.
Desde 1995, o tratamento é oferecido de graça para pacientes em todo o mundo, e, nesse mesmo ano, o Brasil proibiu o uso dos termos “lepra” e seus derivados nos documentos oficiais da Administração, em uma tentativa de reduzir o estigma associado à doença.
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