Erro médico – O universo da medicina enfrenta um desafio invisível que, em sua magnitude, pode ser assustador: centenas de milhares de diagnósticos médicos errados a cada ano, que resultam em inúmeras mortes e deficiências permanentes. Este é um drama pouco conhecido que ocorre nos Estados Unidos, conforme um relatório recentemente publicado traz à tona.
Erro médico pode ser fatal em muitos casos
Os números frios de um cenário alarmante, divulgado no relatório, apontam que a falha nos diagnósticos de enfermidades ou condições médicas diferentes das reais, é responsável pela morte de aproximadamente 371 mil pessoas anualmente, enquanto outras 424 mil acabam sofrendo deficiências permanentes que vão desde danos cerebrais e cegueira até a perda de membros ou órgãos, e mesmo câncer metastático.
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Este panorama é fruto de um estudo meticuloso conduzido por pesquisadores que, para chegar a estas estimativas, levaram em consideração a análise de dezenas de pesquisas anteriores. Os estudos avaliaram a frequência com que determinadas condições médicas passavam despercebidas e o quão frequentemente isso resultava em danos sérios. O risco avaliado foi então dimensionado levando em conta a taxa de incidência de novos casos na população total dos EUA.
No entanto, apesar dos dados alarmantes, os pesquisadores salientam que os pacientes não devem entrar em pânico ou perder a fé no sistema de saúde. De acordo com o estudo, o percentual de danos graves relacionados ao diagnóstico incorreto após uma consulta de saúde é inferior a 0,1%.
Entre os diagnósticos equivocados, que resultam em consequências graves como a morte e a incapacidade permanente, quase 40% estão relacionados a erros no diagnóstico de cinco condições específicas: acidente vascular cerebral, sepse, pneumonia, tromboembolismo venoso (um coágulo de sangue em uma veia) e câncer de pulmão. Conforme salienta o Dr. David Newman-Toker, neurologista da Universidade Johns Hopkins, estas são doenças relativamente comuns que frequentemente não são identificadas e estão associadas a um volume significativo de danos.
O estudo foi conduzido pelo Dr. David Newman-Toker, que liderou uma equipe de pesquisa do Johns Hopkins Armstrong Institute Center for Diagnostic Excellence, em colaboração com pesquisadores da Risk Management Foundation of Harvard Medical Institutions Inc. Embora essas cinco condições não sejam as mais frequentemente mal diagnosticadas, o impacto desses erros é alto. A análise dos resultados pode, portanto, contribuir para que se defina quais áreas necessitam de investimento e intervenção prioritária.
Por exemplo, o abscesso espinhal, uma infecção do sistema nervoso central, é uma doença que o relatório aponta como sendo diagnosticada erroneamente em mais de 60% das vezes. No entanto, considerando que a doença tem 14 mil novos casos por ano, essa falha de diagnóstico resulta em cerca de 5 mil casos graves, uma parcela relativamente pequena quando comparada ao total de erros de diagnóstico.
Por outro lado, o acidente vascular cerebral, destacado no relatório como a principal causa de danos graves, é uma condição relativamente comum com alto risco de resultados graves e é diagnosticada erroneamente com mais frequência do que a média. De acordo com o relatório, cerca de 950 mil pessoas sofrem um derrame a cada ano nos Estados Unidos, e a condição não é diagnosticada em cerca de 18% dos casos, levando a aproximadamente 94 mil danos graves anualmente.
Interpretação errada
Os erros de diagnóstico são comumente resultado da interpretação errada de sintomas inespecíficos, associados a algo mais comum e, talvez, menos grave do que a condição que realmente está presente, de acordo com especialistas.
Apesar dos desafios apresentados, o estudo aponta para um caminho de otimização dos diagnósticos. A aposta é em um sistema de atendimento concentrado que evite a perda de diagnósticos precisos, como ocorre atualmente com os ataques cardíacos, cujos erros de diagnóstico são inferiores a 2%, segundo o relatório.
Contudo, a solução passa também pela superação de desafios sistêmicos mais amplos no sistema de saúde. Conforme observou o Dr. Daniel Yang, internista e diretor do programa da iniciativa de excelência diagnóstica da Gordon and Betty Moore Foundation, o diagnóstico é uma odisseia que pode durar meses ou até anos, abrangendo vários ambientes de atendimento e diferentes tipos de médicos.
Como aponta Yang, frequentemente os pontos de atendimento estão desconectados e os provedores geralmente não têm uma visão completa do histórico do paciente. Essa fragmentação é um convite para que informações se percam no caminho, deixando para o paciente a tarefa de unir todas as peças do quebra-cabeça.
A solução pode passar por uma participação mais ativa do paciente em sua jornada de diagnóstico, como sugere um relatório de 2015 das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina. Os pacientes podem manter um registro preciso de seu histórico médico, se manter informados sobre condições, exames e medicamentos relevantes, e manter o acompanhamento com profissionais com perguntas sobre quaisquer alterações ou próximas etapas.
Assim, o panorama desenhado pelo estudo é claro: o diagnóstico é um desafio central para a medicina atual, com um impacto direto na qualidade de vida e, muitas vezes, na sobrevivência dos pacientes. Enfrentar esse desafio é um imperativo para um sistema de saúde mais eficiente e humanizado.
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