As canetas contra obesidade e diabetes tipo 2 viraram febre em todo o país. No entanto, como contamos em uma matéria recente sobre o assunto, os produtos que são vendidos com os nomes de Ozempic e Saxenda são medicamentos e não cosméticos. Entre outras palavras, a utilização das canetas ‘milagrosas’ sem acompanhamento médico pode causa efeitos totalmente contrários ao que a pessoa está buscando. Saiba mais abaixo os relatos de quem já usou e entenda os riscos.
Caneta não faz milagre
Em tempos de redes sociais, onde a aparência física é primordial para muitos que desejam exibir o melhor shape nas fotos das plataformas na web, todo truque (e sacrifício) para perder aquele pneuzinho ou diminuir o número que aparece na balança, é válido.
A novidade do momento são as canetas emagrecedoras, criadas em 2021 no tratamento contra a obesidade e a diabetes tipo 2, mas que têm sido usadas para fins estéticos com a alegação de que os resultados são rápidos e seguros. Contudo, segundo especialistas e os próprios usuários que relataram experiências não muito boas, o alerta para o uso indiscriminado se faz necessário.
Atualmente, são comercializados o Ozempic, que contém o medicamento semaglutida, e o Saxenda, que tem a liraglutida como princípio ativo. A popularização do Ozempic, por exemplo, fez o remédio sumir das prateleiras das farmácias. O medicamento que é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, provoca saciedade e diminui o apetite, e por tal motivo tem sido usado off label (fora da bula) para o tratamento de obesidade.
Muitas pessoas sem diabetes ou obesidade também têm recorrido às canetas para perder peso de forma rápida. E, como o medicamento não exige a retenção da receita na farmácia, é possível fazer a compra mesmo sem o pedido de um médico.
Sem indicação, a alternativa é buscar respostas em grupos nas redes sociais. Neles, as pessoas compartilham experiências, informam onde encontrar a canetas mais baratas, dicas para conseguir descontos e até qual a dosagem ideal para cada semana – e quantos “cliques” são necessários para atingir o miligrama indicado (as canetas são vendidas em diferentes dosagens e o tratamento varia).
Essas comunidades podem ser uma “rede de apoio” para quem está na luta contra a obesidade, mas também um perigo para quem busca o emagrecimento a todo custo. As canetas não são baratas e usar sem acompanhamento médico pode ser dinheiro jogado fora. Inclusive, não é raro encontrar nos grupos pessoas insatisfeitas com o resultado dos medicamentos.
Nem todo mundo admite que usou (ou está usando) esses medicamentos, mas esse não é o caso da Nathalia, da Carolina, da Mariana e da Marcella, que relataram como foi a experiência com o Ozempic e o Saxenda.
Abaixo, confira os quatro relatos:
1 – Resultado não é fruto de milagre
Nathalia Paes, executiva de vendas, resolveu mudar os hábitos em setembro de 2021. “Fui para um spa e comecei a praticar exercícios e fazer dieta por conta própria, sem acompanhamento médico e de nutricionista. Eu emagreci 12 kg até março de 2022 e estacionei, parei de ter resultados”, conta.
No “efeito platô”, ela decidiu procurar ajuda profissional. Foi ao endocrinologista para fazer exames e iniciar algum tratamento. “Iniciei o tratamento com Ozempic em abril de 2022. A médica me informou que existia um tratamento ‘novo’ que apresentava resultado, mas que exigia um investimento alto”.
Nathalia eliminou mais 18 kg com a ajuda do medicamento. Foram 30 kg em dois anos (somando os 12 kg em 2021/2022). Hoje ela está diminuindo o uso da caneta, mas a executiva de vendas lembra que o resultado não é fruto de um “milagre”.
“Eu mudei totalmente os hábitos, passei a realizar exercícios diariamente, além de fazer acompanhamento com nutricionista”, diz.
2 – ‘Mudei a forma de me relacionar com a comida’
A advogada Carolina Abreu ganhou 20 kg na gravidez e chegou a pesar 94 kg. Um ano e meio após o nascimento do filho, ela tentou todos os meios possíveis para emagrecer – fez acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, criou uma rotina de exercício físico, treinou com personal trainer. Nesse período, ela eliminou 16 kg, mas os 4 kg restantes ainda a incomodavam.
Estava ficando deprimida, ansiosa e aí meu marido começou a tomar Ozempic. Ele emagreceu 12 kg muito rápido e, por conta própria, resolvi tomar também. No entanto, não consegui prosseguir com o medicamento porque os efeitos colaterais eram insuportáveis.
“Segui sem conseguir descer nenhum quilo na balança e resolvi ir ao médico. Em outra consulta, um ano antes, o endócrino disse que não havia necessidade de medicamento, já que eram poucos quilos. Dessa vez, disse que tentei outras formas, mas não consegui. Ele decidiu receitar o Ozempic. Emagreci 10 kg em 40 dias. Foi a única coisa que resolveu”, completa.
Carolina parou de usar o Ozempic há um mês. Ela conta que o processo a fez mudar a forma de se relacionar com a comida.
“Eu não deixei de comer besteira, vinho, chocolate, mas me reeduquei. Eu fazia quatro refeições por dia e, por mais saudável que fosse, eu comia em muita quantidade. Eu achei meu ponto de equilíbrio”.
3 – ‘Entendi meu corpo, minha fome e minha ansiedade’
O Saxenda ajudou a arquiteta Mariana Vilella a entender o corpo, a fome e a ansiedade. Ela usou a caneta por aproximadamente três meses. A indicação veio porque ela estava com sobrepeso, taxas alteradas do colesterol, triglicerídeos e compulsão alimentar.
“Procurei um endócrino e comecei a fazer terapia. Na época, o médico sugeriu outros remédios, mas eu pedi algo que tivesse menos efeito colateral no sentido da ansiedade. Nunca tinha tomado remédio para essa finalidade, mas ouvia relatos de efeitos psiquiátricos bem pesados”, contou Vilella.
Por um mês, ela usou apenas a caneta, porque se sentia fraca e não conseguia comer quase nada. Depois, ela aliou a medicação com atividade física e reeducação alimentar. Ela eliminou 10 kg em três meses. “Para mim, foi muito bom. O medicamento, junto com a terapia, me fez entender o que é fome de verdade e o que é ansiedade e compulsão”.
4 – É preciso mudar a chave na cabeça
“Comecei tomando o Saxenda em outubro de 2020. Passei por uma consulta com endócrino, estava pesando 76 kg. Tomei até fevereiro de 2021 e cheguei aos 58 kg. Quando parei, engordei mais ou menos uns 3 kg, mas eu já imaginava. Na época, eu fazia atividade física, me alimentava melhor, virei uma chave na minha cabeça”, conta a publicitária Marcella Almeida.
As coisas mudaram em 2022. Por causa da ansiedade, problemas familiares e insatisfação com o trabalho, a publicitária encontrou o “conforto” na comida.
“Ansiedade a mil e eu ficava comendo o dia inteiro. Não conseguia parar de comer enquanto não acabasse”, lembrou Marcella.
Ela voltou ao endocrinologista em 2022, que receitou o Ozempic. Marcella aplicou a caneta, mas passou muito mal e desistiu. Durante a consulta, o médico contou do comprimido que tinha o mesmo princípio ativo (semaglutida): o Rybelsus.
Em julho de 2023, ela lembrou do Rybelsus e decidiu usar por conta própria. “Nesse começo eu ainda passei mal, mas venho melhorando. Eu ainda não voltei a fazer atividade física, mas preciso. Sei que não adianta nada se não virar a chave. O remédio é um caminho, mas não faz milagre, ele te ajuda a chegar em um objetivo, mas precisa mudar o pensamento”, pontua.
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