Mistérios no gelo – Dentro das gélidas profundezas da cratera Batagay, na Sibéria, encontram-se rastros da história climática e biológica de nosso planeta de um passado remoto. Esse permafrost, que remonta a 650 mil anos, oferece aos pesquisadores uma rara visão dos segredos climáticos de milênios passados, e talvez, uma indicação do que o futuro climático pode nos reservar.
Mistérios escondidos por séculos
Os permafrosts, terrenos congelados por pelo menos dois anos consecutivos, são um arquivo climático natural. Contudo, o permafrost de Batagay, mantido intacto por mais de meio milhão de anos, é especial. Sendo o mais antigo encontrado na Sibéria e o segundo mais antigo do mundo, os habitantes locais o apelidaram de “porta de entrada para o submundo”. Com uma área de cerca de 0,8 quilômetros quadrados, seu paredão principal ostenta 55 metros de altura, sendo fonte de inúmeras amostras coletadas pelos pesquisadores.
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O conhecimento sobre a cratera Batagay veio à tona através de um estudo publicado na revista Quaternary Research em 2021. Em abril de 2023, os resultados finais deste importante trabalho foram divulgados durante a Assembleia Geral da União Europeia de Geociências. Essas descobertas trazem à luz revelações inéditas e instigantes sobre nosso passado climático distante.
Para identificar as idades das camadas distintas de permafrost, a equipe de pesquisa empregou três métodos de datação. A datação por radiocarbono foi usada inicialmente, dando uma janela de visualização de até 60 mil anos atrás. Depois, a datação por cloro-36 e a luminescência, que estima quando os sedimentos foram pela última vez expostos à luz solar, medindo a energia liberada pelos fótons em cristais minerais do subsolo. Estes dois últimos métodos conseguem oferecer estimativas que podem remontar entre 500 mil a 1 milhão de anos.
As conclusões das medições apontaram que a camada mais antiga de permafrost foi formada há cerca de 650 mil anos, coincidindo com o maior período glacial do hemisfério norte dos últimos milhões de anos. Há um hiato nas camadas por volta de 200 mil anos atrás, cuja causa é incerta – os pesquisadores ponderam se poderia ser devido ao derretimento das camadas intermediárias ou a ausência de novas formações de permafrost durante esse período. Uma outra lacuna se manifesta por volta de 130 mil anos atrás, provavelmente originada pelo aquecimento global durante um período interglacial.
Mudanças climáticas futuras
O paleoclimatologista Thomas Opel, um dos responsáveis pelo estudo, compartilhou com a Live Science que, dado o grande acúmulo de carbono antigo no permafrost, espera-se que o estudo possa auxiliar a prever como o permafrost poderá reagir às mudanças climáticas futuras. O estudo do permafrost anterior e posterior a esses intervalos pode trazer à luz informações cruciais sobre a época e, possivelmente, elucidar aspectos sobre as atuais mudanças climáticas.
A cratera de Batagay não é apenas um tesouro para climatologistas, mas também um repositório de fauna e flora passadas. Em 2018, foi descoberto um potro do Pleistoceno de cerca de 40 mil anos, pendurado na cratera. Estava tão bem preservado que parecia ter morrido recentemente. Outros vestígios de vida encontrados na cratera datam dos últimos 60 mil anos, mas os cientistas ainda estão investigando as camadas mais antigas, explorando a composição química e qualquer traço de DNA antigo que possa ser identificado.
O estudo da cratera Batagay continua, com cientistas dedicados a decifrar os segredos congelados nesse antigo permafrost. À medida que mais descobertas são feitas, aumenta nossa compreensão do passado climático da Terra, um conhecimento crucial para prever e enfrentar os desafios climáticos futuros.
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